Caliani

Como Cain Velásquez matou o rei

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Como quase todo mundo continua indignado com o Cigano e essa luta ainda tem dado o que falar, resolvi traduzir a análise do Jack Slack sobre a luta. Serve para explanar que a falha do Cigano nessa luta não foi de guarda baixa. Boa leitura.

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Nós analisaremos o incrível main event do UFC 155 observando como Cain Velasquez tomou controle da luta no começo e superou Dos Santos no boxe.

Variedade é realmente o tempero da vida e Cain Velasquez conseguiu apimentar as coisas ao punir Junior dos Santos com estratégia, em todas as áreas da luta do UFC 155. Na sua bem-sucedida tentativa de retomar o cinturão dos pesos pesados do UFC, Cain Velasquez destruiu Junior dos Santos em pé, no clinch e no chão. O tempo passa e novamente nós vimos nas artes mistas marciais a ameaça do grappling do lutador com o jogo de trocação mais primitiva agir como um equalizador de forças e permitir que o pior trocador conecte os golpes os quais não teria obtido sucesso em conectar em outra ocasião. Da finta de queda ao gancho de esquerda de Kevin Randleman em Mirko Cro Cop, até o direto de esquerda de surpresa de Chael Sonnen em Anderson Silva, ou até à consistente neutralização de trocadores supostamente melhores por parte de Georges St. Pierre - a ameaça do takedown muda completamente a história.

Fedor Emelianenko e Chuck Liddell são lembrados pelas suas excelentes defesas de queda no auge, mas muito disso veio de sacrifícios feitos no jogo de trocação por algumas vezes. Chuck Liddell em particular é lembrado por deixar as suas mãos baixas para proteger seu quadril do controle dos oponentes ao invés de proteger seu rosto dos socos deles. Como o MMA evoluiu, a defesa de quedas dos trocadores também evoluiu. Mirko Cro Cop foi talvez o único trocador de elite que conseguia lutar com suas mãos altas e fazer o sprawl sucessivamente em bons wrestlers - enquanto outros tendem a sacrificar medidas ofensivas e táticas para se defenderem melhor da queda.

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Fedor Emelianenko e Chuck Liddell em suas bases com mãos baixas contra o ótimo lutador em puxar guarda, Antônio Rodrigo Nogueira, e o mestre dos takedowns, Kevin Randleman, respectivamente.

Junior dos Santos é algo como o híbrido da velha escola de defesa de queda de mãos baixas e da nova escola do jogo de pernas evasivo e de deixar a perna da frente de molho para o oponente pegar antes de pular para fora da grade quando eles encaixam um single leg. O problema com qualquer trocador que tenta fazer o sprawl e responder de qualquer forma é que é quase impossível se concentrar em trocar com o oponente e simultaneamente defender a queda, e grande parte do sucesso em fazer isso é atribuído à antecipação. O uso sistemático da mão direita de Cain (enquanto na primeira luta ele tentou se afastar da curta distância e boxear) forçou Dos Santos a levantar as mãos ou puniu Dos Santos quando eles permaneceram baixas, e a ameaça da queda forçou Cigano a se movimentar todas as vezes - e ambas as ações o cansaram e limaram o poder dos seus socos que ele conectou quando Cain caiu para dentro.

Cain Velasquez conseguiu conectar socos pesados em Junior dos Santos e eliminar a potência dos socos do melhor boxeador ao fazer Dos Santos se preocupar constantemente em posicionar suas pernas para fora do caminho de Velasquez. Nos segundos iniciais Velasquez fez exatamente o que ele deveria ter feito durante a primeira luta, mergulhando na perna da frente que Dos Santos escancara tão gratuitamente em sua base aberta. Embora eu tenha criticado anteriormente o movimento de cabeça de Cain, o que ainda não melhorou tanto em posição de trocar, o ato de mudar de nível de elevação para o single leg na verdade o tornou muito mais difícil de ser acertado.

Note embaixo como Cain está encurralando Dos Santos para a grade - onde Cain faz o seu melhor serviço - e na sua troca de nível para pegar a perna da frente de Dos Santos, ele evita ser golpeado pelo gancho de esquerda de contragolpe do qual falamos no artigo Killing the King: Junior dos Santos.

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Assim que os dois voltaram para o centro do octógono, Junior dos Santos assumiu sua base aberta e Cain imediatamente mergulhou na perna da frente de novo. Apesar de Junior ter conseguido chacoalhar Cain, seus pés raramente estiveram em posição de golpear com potência depois desta segunda tentativa de queda.

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Como Cain havia lutado apenas uma vez após sua luta anterior com Dos Santos e nada aconteceu em pé, era razoável esperar que Velasquez ainda mostrasse deficiências na sua trocação, e ele certamente mostrou. Sempre que jabeou, Cain Velasquez o fez com sua cabeça ereta, mas como Cain havia se empenhado em atacar a base de Dos Santos em qualquer momento e em qualquer lugar que fosse possível, Cigano moveu-se constantemente para a direção oposta dos seus próprios socos.

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Para jogar diretos com qualquer potência ao andar para trás, o direto precisa agir como uma vara que guia o caminho do adversário. É preciso desacelerar o recuo e deixar que o oponente corra em direção ao seu punho de modo a causar dano, mas Cigano estava tão preocupado em defender seu quadril e suas pernas que ele se moveu constantemente na direção oposta aos socos que ele estava mandando.

O único momento em que Cigano fixou seus pés foi para jogar um uppercut de direita da altura da sua coxa, numa tentativa de contragolpear as constantes mudanças de nível de Cain. Sobre o uppercut de direita de Dos Santos, ele costuma executá-lo para se proteger de adversários investindo, não em adversários que estão mudando o nível para quedar de uma distância apropriada. Como resultado das sucessivas mudanças de nível de Cain entre trocação e mergulhos na perna, Dos Santos errou um uppercut louco e foi acertado com uma direita que o deixou em perigo.

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Cain foi igualmente bem-sucedido todo o tempo que ele se aproximou da grade enquanto Dos Santos simplesmente abaixou as mãos para defender-se de uma queda, sem espaço restante para movimentar seus pés. Foi daqui que Cain acertou diversos bons socos como o forte jab e a mão direita abaixo.

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O knockdown que tornou a luta desigual num monólogo veio como resultado da tentativa de Dos Santos de contra-atacar um jab enquanto andava para trás e falhando em se proteger da mão direita de Cain que deu sequência. O knockdown é mostrado abaixo de dois ângulos e você perceberá que os pés de Junior estão fora de posição para socar com a firmeza que um bom jab de contragolpe requer, e que ele claramente não antecipa o ataque posterior de Velasquez. Veja isto neste gif brilhante.

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É interessante notar que na primeira luta entre eles foi o desejo ensandecido de Cain Velasquez de contragolpear a qualquer momento que o nocauteou - enquanto ele devolveu jabs sem pegada sobre ele mesmo, no momento em que JDS trabalhou o corpo antes de passar por cima com um cruzado de contragolpe.

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Ainda mais interessante porque nessa luta a inabilidade de Dos Santos de contragolpear com potência ao se manter afastado das mudanças de nível de Cain o forçou a jogar este jab fraco e comer uma mão direita pesada que mudou o rumo da luta de mal a pior para ele.

A verdade é que Cigano não pode bater forte enquanto recua porque é uma técnica raramente praticada e que não é muito ensinada em boxe tradicional. Vários strikers heterodoxos usaram isto com grandes resultados contra wrestlers, entretanto - Chuck Liddell, Fedor Emelianenko, Igor Vovchanchyn, e até a segunda luta de Anderson Silva com Chael Sonnen foi fortemente influenciada por backstep punching.

A vantagem de poder pisar para fora da base e dar passos para trás para contragolpear é o que cria tanta distância entre dois combatentes, de forma que o wrestler é quase convencido de tentar trocar e cair para dentro porque, a menos que ele seja um jovem Kevin Randleman, os mergulhos de um wrestler de fora de uma distância de trocação simplesmente não funcionam.

É claro que como Cain Velasquez e Junior dos Santos estão empatados em 1-1 a conversa sobre uma revanche persistirá assim que Cigano conseguir outra vitória, e para ser sincero será empolgante de ver uma rivalidade verdadeiramente ótima entre pesos pesados, após a decadência da trindade dos pesados composta por Nogueira, Filipovic e Emelianenko. É importante lembrar, no entanto, que mesmo sem ter ocorrido uma finalização, o espancamento contínuo de 25 minutos mexerá mais com a cabeça, carreira e saúde do lutador do que um nocaute embaraçoso em 60 segundos. Junior dos Santos tem bastante tempo para voltar a lutar e trabalhar o seu corte de peso se ele quiser ser campeão dos pesos pesados novamente.

http://www.bloodyelbow.com/2012/12/31/3817174/ufc-155-how-cain-killed-the-king

Editado por Caliani

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bela tradução, caliani.

agora sem querer me achar, mas não falou nada além do óbvio, é q tem gente que teima em não compreender isso.

ficamos umas 3h depois da luta no tópico dela tentando explicar o q aconteceu na luta. O Cain simplesmente montou uma estratégia quase perfeita, e o q eu falei: a estratégia dele era sim atacar a todo instante não importando o resultado desse ataque no curto prazo. Mta gente quis/quer acreditar q ele tava 'cagado' ao "se jogar" nas pernas do cigano incessantemente, mas era óbvio q era estratégia..

cigano nunca pôde estabelecer seu jogo de longa distância e na curta distância ele não soube/sabe contragolpear... qdo tentou o jab, como falei ao cal, entrou o direto do cain que o derrubou.

quotes principais:

como Cain havia se empenhado em atacar a base de Dos Santos em qualquer momento e em qualquer lugar que fosse possível, Cigano moveu-se constantemente para a direção oposta dos seus próprios socos.
O uso sistemático da mão direita de Cain (enquanto na primeira luta ele tentou se afastar da curta distância e boxear) forçou Dos Santos a levantar as mãos ou puniu Dos Santos quando eles permaneceram baixas, e a ameaça da queda forçou Cigano a se movimentar todas as vezes - e ambas as ações o cansaram e limaram o poder dos seus socos que ele conectou quando Cain caiu para dentro.
Assim que os dois voltaram para o centro do octógono, Junior dos Santos assumiu sua base aberta e Cain imediatamente mergulhou na perna da frente de novo.
A verdade é que Cigano não pode bater forte enquanto recua porque é uma técnica raramente praticada e que não é muito ensinada em boxe tradicional.

Tudo isso discutido nas horas seguintes a luta no thread oficial.

Por isso, pessoal, q o cigano não pôde fazer seu jogo, pq o cain NÃO DEIXOU e o Cigano não tinha o plano B em pé.

Editado por Sir Robert Charlton

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Pois é Bob, eu lembrei de vc falando quando traduzi esses trechos. Sim, normalmente o autor fala o óbvio e outras vezes algumas coisas que poucos sabem... mas pelo que se leu na principal do PVT isso já é bastante. É legal pq ele é bem didático (costuma ser mais, esse ficou feito meio que as pressas).

Mas e aí, como vc acha que ele vai ter que treinar contragolpe? com caratê? ou um reforço de MT seria mais conveniente?

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Caliani esses textos são sempre otimos, vlw pela tradução.

Realmente a galera comentou isso mesmo, o Calbaiano praticamente falou a mesma coisa sobre golpalear recuando.

Acho que numa proxima luta entre eles o Cigano deveria usar mais joelhada de encontro, pq essas tentativas de queda no começo do 1RD estavam telegrafadas, se o que faz o Velasquez se jogar de cara nas pernas do Cigano é ele fazer aquela base, então deixa o joelho preparado pra isso.

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Opa

Obrigado pela tradução Caliani.

Ótimo texto.

Fiquei muito decepcionado com a atitude do cigano na luta

e a péssima atuação do corner.

Porra o Ramon Lemos lá e não dá a letra para o cigano fechar

a guarda e tentar algum ataque.Achei o groud and pound do cain

muito fraco nessa luta.

Ficou claro que a confiança no jiu do cigano é zero.

E o dórea deixou a desejar também.Só motivou..

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Show de bola.

Ótimo Tópico

Caliani esses textos são sempre otimos, vlw pela tradução.Realmente a galera comentou isso mesmo, o Calbaiano praticamente falou a mesma coisa sobre golpalear recuando.Acho que numa proxima luta entre eles o Cigano deveria usar mais joelhada de encontro, pq essas tentativas de queda no começo do 1RD estavam telegrafadas, se o que faz o Velasquez se jogar de cara nas pernas do Cigano é ele fazer aquela base, então deixa o joelho preparado pra isso.

OpaObrigado pela tradução Caliani.Ótimo texto.Fiquei muito decepcionado com a atitude do cigano na lutae a péssima atuação do corner.Porra o Ramon Lemos lá e não dá a letra para o cigano fechara guarda e tentar algum ataque.Achei o groud and pound do cainmuito fraco nessa luta.Ficou claro que a confiança no jiu do cigano é zero.E o dórea deixou a desejar também.Só motivou..

Valeu amigos. Dei uma editada numas frases que tinham ficado sem sentido, agora tá consertado.

Editado por Caliani

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Boa tradução! Li lá essa semana e o Jack Slack manda bem demais.

PS: Esse cara não daria um bom técnico tipo Greg Jackson (por nunca ter sido lutador famoso, eu digo), parece ter um conhecimento tecnico bem grande.

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Tinha um tempão que não lia algo do Jack Slack, como sempre concordo plenamente com ele.

Dessa vez ele disse o óbvio, mas não tinha muito mais pra falar dessa luta mesmo não.

Valeu por estar sempre nos lembrando dos textos desse cara, Caliani! Tu sabe quão importantes esses posts são para a qualidade do fórum.

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Belo trabalho!!

Comentei e sequer agradeci. Que deselegante! heheheObrigado pelo trabalho, Caliani. Já fiz algumas traduções para o fórum e dá um trabalhão. Abs.

Boa tradução! Li lá essa semana e o Jack Slack manda bem demais.PS: Esse cara não daria um bom técnico tipo Greg Jackson (por nunca ter sido lutador famoso, eu digo), parece ter um conhecimento tecnico bem grande.

Obrogado pela tradução, muito mons esses textos!!!

Tinha um tempão que não lia algo do Jack Slack, como sempre concordo plenamente com ele. Dessa vez ele disse o óbvio, mas não tinha muito mais pra falar dessa luta mesmo não. Valeu por estar sempre nos lembrando dos textos desse cara, Caliani! Tu sabe quão importantes esses posts são para a qualidade do fórum.

Obrigado!

Não tem muito o que falar mesmo, só to esperando a resposta do Bob (se ele ainda tiver vivo). :)

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bela tradução, caliani.

agora sem querer me achar, mas não falou nada além do óbvio, é q tem gente que teima em não compreender isso.

ficamos umas 3h depois da luta no tópico dela tentando explicar o q aconteceu na luta. O Cain simplesmente montou uma estratégia quase perfeita, e o q eu falei: a estratégia dele era sim atacar a todo instante não importando o resultado desse ataque no curto prazo. Mta gente quis/quer acreditar q ele tava 'cagado' ao "se jogar" nas pernas do cigano incessantemente, mas era óbvio q era estratégia..

cigano nunca pôde estabelecer seu jogo de longa distância e na curta distância ele não soube/sabe contragolpear... qdo tentou o jab, como falei ao cal, entrou o direto do cain que o derrubou.

Você mitou nos seus posts depois da luta :)

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Acho que já agradeci ao Caliani por outras traduções e continuarei fazendo: muito obrigado.

Uma aula de boxe aplicado ao mma

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Parabéns Caliani.

Mas desta vez acho importante ressalvar que antes da luta tinha um outro artigo do Jack no qual ele não foi capaz de vislumbrar nadinha disso. Pelo contrário. Pintou um quadro bem diferente (Pelo que me lembro, salvo engano e resumindo, ele falou que para o Cain ganhar do Cigano teria que chutar a base, mas o problema era que o Cain quando chuta fica muito vulnerável, pois ele fica na frente do adversário, de forma que o Junior capitalizaria. O Jack apostou fudidamente no Junior e não vislumbrou outras formas do Cain ganhar). Ser profeta do dia seguinte é sempre mais fácil.

Logo, não sei se concordo com tudo que ele falou agora. Não entendo nada de boxe, e aqueles que entendem podem dar uma luz, mas tenho dúvidas sobre esse lance de que bater forte andando para trás é uma técnica tão rara e pouco ensinada no boxe como o Jack deu a entender (daí justificando, também, ainda que de forma implícita, a falta de armas do Cigano, por ser algo raro e difícil).

Na minha ignorância, imagino que o Junior deveria saber fazer isso. E bem. Até pq a estratégia do Cain não era assim tão difícil de prever.

Editado por Animus Necandi

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