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Convidado Resgate

Entrevista com Romero Jacaré

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Convidado Resgate

Por Wesley Moura e Bruno Carvalho

BRASIL COMBATE - Conte-nos como foi o seu inicio na arte suave.

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ROMERO JACARÉ - Comecei no Jaildo Gomes, irmão do famoso Ivan Gomes, aos 13 anos mais ou menos e depois, aos 17 ou 18, fui treinar com o Carlson em cima da Casa Gebara em Copacabana. Mas quem me dava aula era o Toninho, na época faixa marrom. Após ganhar a faixa azul ele me levava nos treinos do Carlson pra encascorar. Em 1972, no entanto, me mudei para Nova Iorque e só voltei no fim de 1974.

BRASIL COMBATE - Como foi treinar com Rolls Gracie. você voltou dos EUA para o Brasil em 1974 e decidiu treinar com ele. O que você aprendeu com Rolls Gracie?

ROMERO JACARÉ - Eu Voltei em 1974 pro Rio de Janeiro e fui treinar com ele, que dividia a academia com o Carlson em Copacabana. As aulas eram muito boas, técnicas, com posições novas, treinos fortes e uma equipe unida, verdadeira família. Eu aprendi muito e fui da faixa azul até a preta 1982. O Rolls foi como um pai, uma pessoa humana de muito caráter, sem igual, além de um professor de Jiu Jitsu excepcional.

BRASIL COMBATE - Como a tragédia da morte do grande mestre Rolls Gracie impactou sua vida? Pois você era aluno dele e pensou até mesmo em desistir do Jiu Jitsu.

ROMERO JACARÉ - A morte do Rolls impactou toda uma geração. Ele estava nos preparando cuidadosamente para competirmos e darmos aulas ao seu estilo. Foi como se perdêssemos o nosso pai, irmão mais velho, amigo pra todas as horas. Enfim, foi uma perda não só para todos os alunos, família, amigos, etc, mas para o esporte. Perdemos nossa referência. Fui fazer triatlon e quase parei com Jiu Jitsu. Fiquei sem treinar legal por uns dois anos até voltar a treinar com o Rickson na Gracie Humaitá.

BRASIL COMBATE – O grande Mestre Rolls Gracie era conhecido por ter estopim curto com os atletas. Você confirma essa característica dele?

ROMERO JACARÉ - Não confirmo essa situação. Acho que ele era amigo de todos e muito paciente com os seus alunos. Nos tratava como filhos. Eu nunca vi o Rolls nervoso ou destratando ninguém. Tinha muito controle emocional e era um tremendo parceiro pra qualquer parada.

BRASIL COMBATE - Você ministra aulas para soldados americanos. A guerra do Iraque afetou física ou psicologicamente seus alunos? Como o Jiu Jitsu ajudou os seus atletas enquanto estavam no Iraque?

ROMERO JACARÉ - Ao chegar a Atlanta tive uma proposta para ajudar no treinamento Hand to Hand Combat que estava sendo desenvolvido na base dos Rangers em Fortt Benning. Então comecei a dar seminários na Base dos Rangers e depois eles matricularam 16 instrutores de cada vez. A cada seis meses trocavam alguns e então pude desenvolver um trabalho de formação desse pessoal para ministrar aulas.

Acho que o Jiu Jitsu ajudou a melhorar o aspecto emocional, físico e é claro técnico. Alguns não sabiam nada mas melhoraram muito em pouco tempo. Sempre que alguns podiam se comunicavam comigo por e-mail e sempre expressavam muita gratidão e carinho. Alguns treinam comigo até hoje quando podem e o principal instrutor de lá, o Matt Larsen, recentemente pegou a preta comigo.

BRASIL COMBATE - Quais foram as maiores dificuldades encontradas em sua mudança para os Estados Unidos?

ROMERO JACARÉ - Eu sou de Recife mas fui criado no Rio, à beira-mar. Adoro o meu país. Formei uma geração incrível de atletas. Ganhamos dois títulos mundiais em 98/99 e tive uma academia de muito sucesso no Rio. Ajudei a formar a Confederação, formei muitos faixas-preta e professores, mas aqui cresci profissionalmente e como pessoa. Falo três línguas fluentemente, tenho uma ótima escola e uma associação que cresce a cada dia. Enfim, sou reconhecido e respeitado além do aspecto da segurança, conforto, etc.

O começo é difícil, muita ralação, mas quem se dedica como eu, 28 horas por dia 8 dias por semana, é honesto e sincero com todos um dia triunfa.

BRASIL COMBATE - Como surgiu a equipe Alliance que tem como cabeças você e Fabio Gurgel?

ROMERO JACARÉ - Surgiu em 92 comigo, o Fabio Gurgel, o Gigi e o Magrão. Foi apenas uma continuação do meu trabalho. Comecei a formar professores com o intuito de ficarmos juntos. Formamos a Alliance pra competir por uma só bandeira. Pena que ao me mudar pra cá em 97 houve alguns problemas internos e alguns saíram. Então demorou um pouco mas os que ficaram levantaram a equipe de novo esse ano voltamos com tudo ganhando Pan, Mundial, Paulista, Naga e praticamente tudo que disputamos. Temos uma equipe sólida, organizada, com filiais em mais de 10 países.

BRASIL COMBATE – Em relação ao encontro de Fabio Gurgel e Romero Jacaré no tatame, quem leva a melhor quando vocês se encontram? O professor ou o aluno? Ou acontece aquele jogo de parceiros?

ROMERO JACARÉ - Na minha idade tem que ser jogo de parceiros. O Fabio é um atleta excepcional e um grande amigo. É claro que ele dá uma aliviada mas não to morto. Ainda dou os meus pulinhos, me cuido muito, treino quatro vezes por semana, malho, me alimento bem, não bebo, não fumo. Jiu Jitsu é mais que uma luta é um estilo de vida e assim levarei até o dia que Deus me chamar e minha missão nessa vida tiver sido cumprida. Levo isso ao pé da letra.

BRASIL COMBATE - Você já comentou que em 1970, quando voltava para o Rio de Janeiro, o Jiu Jitsu O salvou de várias coisas ruins pois seus amigos estavam vivendo um lado escuro da vida. Comente essa passagem, por favor.

ROMERO JACARÉ - Era uma época de muita droga, o começo da liberação de tudo e as tentações eram muitas. Para você escorregar e ir pro lado da bandidagem, especialmente onde fui criado, em Copa no Camões. Então o Jiu Jitsu me deu um rumo, um norte e Graças a Deus pude seguir o rumo certo.

BRASIL COMBATE - Vemos que muitos atletas da Alliance vem se destacando. Como você analisa essa fase excepcional da sua equipe? Quais os planos para 2009?

ROMERO JACARÉ - Depois de muita ralação formando uma nova geração enfim estamos colhendo os frutos. Felizmente saíram as maçãs podres da sacola e agora temos além de ótimos alunos, ótimos professores, temos união, organização e ótimos planos para continuarmos tendo sucesso em 2009. Vontade e dedicação de todos não faltarão. Com certeza faremos bonito por muito tempo.

BRASIL COMBATE - Como você vê a mudança de equipes por parte dos atletas?

ROMERO JACARÉ - Acho que com o crescimento do esporte é uma coisa natural. Mas temos que ser criteriosos ao aceitar novos atletas. Sempre devemos observar o caráter e não aceitar qualquer um na equipe. É uma escolha deles mas posso te garantir que se vier pra cá porque sacaneou o professor, fez besteira antes, aqui não ficará. Temos regras rígidas e não aceitamos aqueles que trocam de equipe assim como trocam de quimono como alguns por aí. Tem time que muda de nome toda hora e isso é inaceitável.

BRASIL COMBATE – O Brasil logicamente sente muitas saudades. Quando teremos a sua presença? Há alguma competição que esteja em seus planos na terra do verde e amarelo?

ROMERO JACARÉ - Amo o Brasil. Sou brasileiro de verdade e penso em voltar um dia e continuar o meu trabalho aí. Mas ainda não posso colocar o burro na sombra. Visito a minha família pelo menos duas vezes por ano e assim que der volto com tudo. Aqui é bom mas igual ao Brasil com o clima, comida e calor humano não tem lugar nenhum. Como diz o Rickson “o coco não cai longe do pé.â€

BRASIL COMBATE – Qual a sua opinião sobre atletas que mudam de academia? Você considera isso uma traição ou forma de expansão?

ROMERO JACARÉ - Alguns são pessoas sem caráter, sem base, sem valores, totalmente vazios por dentro. Passam em branco nessa vida como vegetais. Outros estão, ao contrário, querendo evoluir e fazer parte de times mais sólidos e organizados. Isso eu entendo. Então temos que analisar cada caso individualmente com critério para não cometermos injustiça.

BRASIL COMBATE - E o seu atleta Rubens Cobrinha? Ele pretende partir para o MMA? Tem algum atleta seu que pretende migrar para o MMA?

ROMERO JACARÉ - O Cobrinha é um atleta fora de série, muito dedicado e focado no que faz. Um verdadeiro profissional. Creio que o caminho natural é o MMA. Mas isso é uma transição que deve ser feita no momento certo. Não adianta querer lutar MMA por qualquer migalha e sem estar preparado. Sou a favor desde que esteja fazendo o dever de casa direitinho pra quando chegar lá ter o mesmo sucesso.

BRASIL COMBATE - Qual a sua análise acerca do Jiu Jitsu atual e o Jiu Jitsu ensinado no passado?

ROMERO JACARÉ - O atual é muito mais rico em detalhes e novas técnicas, muito mais inovador e competitivo. Além do desenvolvimento da parte física e psicológica, tem suplemento, treinamento, alimentação, musculação. Enfim, até os menos dotados com muita dedicação surpreendem.

O do passado era uma época em que não se treinava todos os dias, a maioria estudava, trabalhava. Hoje tem garoto que aos 14 ou 15 anos já treina duas vezes por dia. Não há comparação. Só não fica bom quem não quer. Antes era mais no talento. Havia poucos campeonatos, patrocínio nenhum, enfim tudo mudou e evoluiu.

BRASIL COMBATE - Bate Bola:

DEUS: É o criador, a força do universo. Rezo e converso sempre pedindo que me ilumine.

Jiu Jitsu: A razão da minha vida. É minha missão ensinar e melhorar a vida das pessoas com ele.

MMA: Uma forma de se profissionalizar e poder ganhar dinheiro para sobreviver e um caminho que se deve pensar bem, pois a carreira é curta. Tem que saber aproveitar.

Brasil: É meu país que amo muito apesar de tantos problemas e gente corrupta.

Rio de Janeiro: Onde fui criado, muito bonito mas que infelizmente com o passar dos anos se tornou terra sem lei onde a bandidagem e a baderna imperam. Espero que mude pra melhor algum dia.

Rolls Gracie: Devo tudo a ele. Me ensinou o que sei e tenho certeza que olha por mim de onde estiver. Era um anjo que veio fazer o bem nesse mundo.

Fabio Gurgel: Meu grande amigo e sucessor. Grande caráter além de um tremendo professor e atleta com quatro títulos mundiais só na preta. Estamos juntos nessa missão de deixar um legado para as futuras gerações.

Alliance: Uma forma de vida, um estilo, uma grande equipe de tradição e que veio pra ficar. Me dedico vinte e quatro horas do dia para melhorá-la e engrandecê-la.

Brasil Combate: É uma forma saudável de divulgar a nossa arte. Acho que estão fazendo um belo trabalho. Continuem nessa linha, pois todos precisamos de veículos como esse.

BRASIL COMBATE - Romero Jacaré, foi um enorme prazer fazer esta entrevista contigo. Deixe um recado para os internautas do BRASIL Combate que acompanham o teu trabalho.

ROMERO JACARÉ â€“ Bem, antes de tudo, quero desejar um Feliz Natal a todos. Se vierem aos Estados Unidos e a Atlanta, venham me visitar e treinar conosco. Desejo tudo de bom e obrigado por essa chance de falar um pouco da minha origem e das minhas raízes. Continuem a treinar e a se dedicar. Acreditem nos seus sonhos e nunca desistam.

Fonte: Brasil Combate

Editado por Resgate

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valeu pela entrevista, mto boa.

jacaré é um cara que tem uma importância mto grande para o jiu jitsu brasileiro, mas eu não me lembro de ter lido mtas entrevistas dele.

no livro da reila ela fala que qdo o rolls morreu, o jacaré foi treinar com o rickson e o royler la no humaita, ai num campeonato, o royler tava lutando com o de lariva, e o jacaré era o juiz da luta.

a luta terminou empatada, e o jacare deu a vitoria pro de lariva na bandeirada.

daí o royler ficou tão puto com o jacaré que expulsou ele da academia, e não deixou mais ele treinar no humaita.

e foi assim que o jacaré criou a equipe que hj em dia é conhecida como alliance.

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