Gkizi

A luta pela sobrevivência do UFC

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Por T.P. Grant

22/12/12

Enquanto o UFC vivenciava sucesso após sucesso na década de 90, nuvens nebulosas apareciam quando inimigos do esporte buscavam seu fim. Caberia, principalmente, a um árbitro e a um comentarista a tarefa de ajudar a ajustar o esporte para que ele pudesse sobreviver até sua maturidade.

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Em seu começo, o UFC enfrentou severas batalhas a respeito de regras e regulamentos, tanto externa quanto internamente. O primeiro UFC aconteceu no estado do Colorado, que não possuía uma comissão estadual de boxe à época. Coube, então, ao evento criar e aplicar suas próprias regras.

O desenvolvimento dessas regras não foi um processo simples como muitas pessoas pensam. Havia muitas vozes diferentes nessa discussão. Tinha Rorion Gracie, a força maior por trás do UFC; Art Davie, o promotor; e os líderes da Semaphore Entertainment Group (SEG), uma companhia nova-iorquina de pay-per-view. Rorion queria regras mínimas, tentando vender o UFC como o mais próximo possível de uma luta de verdade e recriar o sucesso que o vale tudo havia feito no Brasil, enquanto os outros tentavam conciliar essa visão com a realidade de se realizar um evento esportivo nos Estados Unidos.

Os outros cederam a Rorion e as regras do UFC 1 foram definidas. As lutas tinham um número ilimitado de rounds de cinco minutos. Dedo no olho, mordidas e golpes na região genital foram definidos como técnicas ilegais. Árbitros foram contratados, porém eles não tinham o poder de interromper a luta. As únicas maneiras de isso acontecer eram um lutador desistir ou seu córner jogar a toalha. Rorion também insistia que nenhum lutador utilizasse luvas e tornou proibidas as ataduras para as mãos. Não havia categorias de peso nem exames médicos, exceto por simples exames físicos e de sangue para comprovar se o lutador estaria apto a competir.

O UFC 1 foi um sucesso, tanto do ponto de vista dos negócios quanto para os criadores das regras. Nenhuma das lutas passou de 5 minutos, o que levou à ideia errada de que não havia limite de tempo. Rorion ficou desapontado com a interrupção do árbitro Alberto Barreto na primeira luta do evento, quando Gerard Gordeau chutou o rosto de Teila Tuli, o que fez com que seu dente voasse pra fora do octógono. Rorion gritava para Barreto levar Tuli até seu córner para que o médico o examinasse. Quando o médico declarou que Tuli não tinha mais condições de continuar, seu córner jogou a toalha.

O desapontamento de Rorion fez com que ele procurasse novos árbitros para o UFC 2, e ele recrutou o seu aluno e policial John McCarthy, que se tornaria o principal escritor das regras do UFC. Vários participantes reclamaram de que golpes na região genital eram fundamentais para sua arte e McCarthy convenceu Rorion a torná-los legais, muito para evitar possíveis desculpas. Outra mudança nas regras foi a remoção dos rounds. Depois do primeiro evento, Rorion e os líderes da SEG não viam mais necessidade em tê-los.

Esse era o UFC em sua forma mais brutal, com o mínimo possível de regras, e sua batalha pela sobrevivência começou quase que imediatamente. O UFC tentou voltar à McNichols Sports Arena, mas o prefeito de Denver não permitiu e eles foram forçados a trocá-la pela menor Mammoth Gardens. Nas preliminares não transmitidas, Orlando Weit surrou Robert Lucarelli. Quando Lucarelli estava muito desorientado para desistir e seu córner não reconhecia a seriedade da situação, McCarthy conseguiu persuadir o córner para que jogassem a toalha, somente após seu lutador receber danos significativos e desnecessários.

McCarthy se comoveu com a situação e pediu a Rorion o poder de interromper as lutas quando um lutador "não estivesse se defendendo de forma inteligente". Rorion cedeu, e apartir desse momento os árbitros tinham esse poder. Apesar dos contratempos, o UFC tinha realizado com sucesso o seu segundo evento, mas as nuvens nebulosas chegavam e o UFC enfrentaria muitas batalhas legais nos próximos anos.

Forças políticas maiores trabalhavam nos Estados Unidos na década de 90. TV a cabo crescia rapidamente enquanto a programação tinha preocupações com os níveis de violência e sexualidade na TV. O Governo Federal adotou uma legislação que regulava o que era legal na televisão, e um dos líderes desse projeto era o senador republicano John McCain.

Muitos culparam os laços de McCain com o boxe de ser a razão pela sua perseguição ao UFC, mas não foi o caso. Ele também atingiu o boxe com seus regulamentos e liderou consistentemente uma campanha contra violência e sexo na TV. Batalhas como essa levaram o congresso à introdução do V-Chip em 1996. A esse ponto, o UFC não tinha apelo político, o que o tornou alvo fácil para a oposição.

Enquanto o UFC fazia inimigos poderosos, em seu quarto evento ele também ganhou um de seus mais fortes aliados. O medalhista olímpico em luta greco-romana Jeff Blatnick se juntou à equipe de comentaristas do UFC para o UFC 4 e se viu apaixonado pelo esporte quando Royce Gracie venceu o muito maior Dan Severn, um feito que Blatnick considerava impossível. Ele e McCarthy iniciaram uma amizade e, junto de Bob Meyrowitz, da SEG, se tornariam os mais leais defensores do esporte.

Juntos, McCarthy e Blatnick lentamente ajustariam as regras do evento para que se tornasse mais aceitável para os governos estaduais e locais, uma tarefa que ficou muito mais fácil depois da saída de Rorion Gracie após a adição de rounds e limite de tempo no UFC 5.

McCarthy e Blatnick notaram que um aspecto que muitos consideravam censurável no MMA era a falta de luvas. Logo após a saída de Rorion, eles tornaram as luvas legais, porém não obrigatórias, no UFC 6. No UFC 14, elas se tornaram obrigatórias. As coisas pareciam estar dando certo para o UFC quando eles conseguiram fazer um evento na cidade de Buffalo, em Nova York, mas foi aí que as coisas começaram a desmoronar.

O UFC 8 estava programado para acontecer em Porto Rico, mas somente após diversas batalhas jurídicas o evento pôde ser realizado. Após o evento, o UFC foi banido em todo o país.

Essa foi a primeira de muitas batalhas judiciais do UFC contra governos locais sobre a legalidade de seus eventos. A pressão aumentava enquanto o senador McCain pressionava os governos locais para banir todos os eventos do UFC. Blatnick e McCarthy viajaram a incontáveis tribunais e audições defendendo a causa do esporte que amavam. Eles rapidamente perceberam que a ignorância era a maior de todas as adversárias, sendo que todo o conhecimento que os políticos tinham sobre artes marciais provinham de filmes e lendas urbanas. Muitos acreditavam que os lutadores do UFC podiam matar com apenas um toque.

Blatnick usou sua credibilidade para manipular os legisladores e ajudá-los a mudar suas ideias sobre o UFC. Ele retratava o esporte como uma combinação de todas as modalidades olímpicas: Boxe, Judô, Wrestling e TaeKwonDo. Ele começava a utilizar o termo "Mixed Martial Arts", acreditando que o termo "No Hold Barred" (Vale Tudo) era prejudicial ao esporte.

Em Detroit, o UFC 9 enfrentou diversos obstáculos judiciais e, enquanto o UFC conseguia novamente realizar seu evento, o julgamento do caso proibia socos de punho fechado. Embora nenhuma ação tenha sido tomada contra qualquer lutador, a ordem judicial foi o bastante para assustar Ken Shamrock e Dan Severn, fazendo com que os dois não entrassem em combate franco na luta pelo título daquele mesmo evento.

Então uma organização rival, Extreme Fighting, anunciou que eles queriam fazer um evento no Madison Square Garden, causando uma reação impensada dos políticos de Nova York, que resultou na proibição do esporte em todo o estado.

McCarthy e Blatnick reconheciam que o esporte estava em apuros e que mudanças eram necessárias. Ajustes nas regras aconteciam em quase todo evento, muitos deles para tornar o esporte mais aceitável. McCarthy retirou os golpes baixos, citando que fora a luta entre Joe Son e Keith Hackeny eles nunca tinham sido utilizados. Regras similares foram adotadas, tirando técnicas que eram pouco usadas, mas que fariam o UFC parecer mais regulado. Outras mudanças na regra que eram mais relacionadas à competição proibiam o lutador de segurar a grade, colocar os dedos em cortes e na boca do oponente, golpes na nuca e manipulação de pequenas articulações.

Blatnick foi nomeado comissário do UFC após o UFC 17 e recebeu amplos poderes sobre as regras do evento. Ele aumentou as exigências médicas, tornando-as mais rigorosas para todos os esportes de combate durante um tempo e, junto de McCarthy, criaram os critérios originais para o julgamento de uma luta, que acabaria por serem adotados nas regras unificadas do MMA.

Originalmente, eles queriam colocar dano causado ao oponente como principal critério para o julgamento da luta, mas outras vozes na indústria convenceram-no de que isso não faria bem para o esporte, que já se encontrava em uma posição delicada. Então, ao invés disso, eles listaram "eficácia no striking" e "eficácia no grappling" juntamente de agressividade e controle do octógono como critérios para o julgamento.

Adicionar categorias de peso foi outra jogada para tornar o UFC mais aceitável. As categorias Heavyweight (pesados, 90kg e acima) e Lightweight (leves, abaixo de 90kg) estrearam no UFC 12, com Mark Coleman sendo o primeiro campeão peso pesado do evento. E, apesar de problemas judiciais do UFC em encontrar um local para o evento, o UFC 12 teve um excelente número na venda de pay-per-views.

As entradas não tinham um valor expressivo, mas o dinheiro proveniente do pay-per-view permitia o UFC a continuar. Então, em 1997, poucos dias após o UFC 12, Leo Hindrey foi anunciado como CEO da companhia de TV a cabo TCI e imediatamente cancelou todas as transmissões do UFC. A Time Warner seguiu o exemplo e, de repente, o UFC havia perdido 27 milhôes de lares domésticos.

Isso anunciava uma época que foi considerada a "Era das Trevas" para o UFC. Seus lucros desapareceram, seus lutadores importantes partiram para pastos mais verdes e parecia que o esporte estava prestes a morrer. No entanto, em meio a essa escuridão, novas estrelas surgiram e ajudaram não só a recuperar terreno, bem como a levá-lo para frente.

Editado por Gkizi

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vai ter uma continuação?

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vai ter uma continuação?

Provavelmente sim. Deve ser o próximo assunto abordado na coluna ;)

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Valeu pela traducao Gquinze. Nao sabia que foi o Blatnick o inventor da sigla MMA.

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