Entrevista - Lucio Lagarto

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Faixa-preta de Jiu-Jitsu, Lúcio Lagarto enfrentou tempos difíceis. Lutando contra o câncer, Lagarto venceu a mais difícil das batalhas sem precisar deixar o Jiu-Jitsu de lado. Trabalhando com a arte suave na Inglaterra há três anos, o faixa-preta fixou residência na Terra da Rainha e brilhou no Capital Challenge, este mês, levando o ouro na categoria até 99kg, na Jordânia. Agora, o foco do faixa-preta é o Europeu de Jiu-Jitsu, que acontece em fevereiro. Em entrevista exclusiva à TATAME, o faixa-preta falou sobre seu trabalho na Inglaterra, o desafio de superar o câncer e os planos para 2009, que envolvem Jiu-Jitsu e MMA. Fique ligado na TATAME e confira, amanhã, o bate-papo completo com Lagarto.

Há quanto tempo você está na Inglaterra?

Iniciei meu trabalho aqui há três anos, mas só agora estou vendo o resultado de tudo o que plantei e vim morar aqui definitivamente.

Como foi a sua adaptação?

Ainda estou me adaptando e, para te falar a verdade, é muito difícil, longe do mar, amigos, calor. É dureza, a galera fica pensando que morar fora é maneirasso... Tem a parte boa, lógico, senão não estaria aqui, mas é dureza. Estou feliz.

Como está o Jiu-Jitsu na Inglaterra?

Está evoluindo bastante, mas vejo o Jiu-Jitsu como uma criança, ainda precisa de muito trabalho e atenção para crescer bem. Preciso me abdicar de muita coisa, mas estou me dedicando muito à minha academia e, ao mesmo tempo, treinando muito. Para eu conseguir dar um treino com o Roger (Gracie) preciso viajar duas horas e meia... E ainda voltar no dia seguinte, a maior correria.

Quantos alunos você tem na sua academia?

Estou com uma média de 100 alunos, mas estou colocando um novo sistema na academia que vai mudar tudo, até em relação ao meu treinamento, que vai melhorar. Já tenho alunos bem espertinhos, tem uma galera que adora competir e dar um confere (risos), mas em breve estarão bem melhores. Tenho alunos em todas as faixas, menos na preta.

Como foi a sua recuperação da doença?

Essa foi a mais dura de todas. Precisei quebrar todos os meus limites para me recuperar. Não me sentia 100% nos meus treinamentos, mas tentava manter a cabeça centrada, pois nesse momento só vêm os â€porquês†em nossa mente: porque eu, porque comigo... Então veio o desafio de me superar durante e após a quimioterapia. A ‘quimio’ é brabeza, me sentia mutilado, mas a pós, ‘putz’, muito vômito. Mas sempre que saía, pensava que faltava menos que antes. A vida de atleta e o Jiu-Jitsu foram os principais fatores para a minha recuperação. Só parei de treinar quando os médicos suspeitaram que eu estava com câncer, aí precisei parar para fazer a biopsia, mas logo depois que fiz a primeira quimioterapia, quatro dias depois, já estava rolando no tatame. Não foi fácil, mas tudo depende de como você encara a situação. Não vou dizer que não tive meu momento de pico, de desespero... Tive. Foi no começo, quando descobri, mas depois montei um programa dentro do tratamento, pois precisava me avaliar. Acho que fui o primeiro atleta a fazer um tratamento desses e competir, ainda mais ser campeão. Lemobro que um dia depois de acabar o tratamento o Buiú me emprestou um filme (Antes de partir) e disse: “Lagarto, assista esse filme e depois a gente conversaâ€. Esse filme fala de dois caras que descobriram que estão com câncer e começaram a fazer tudo o que tinham vontade de fazer a vida toda, porque os médicos deram meses de vida a eles. Esse filme mostra o pós-tratamento e, quando fui devolvê-lo, ele me perguntou: “Você sentiu isso tudo também?â€. Quando eu respondi sim, ele, com os olhos cheios de água, me disse: “Caraça, Lagarto, não dava pra imaginar. Você sempre estava sorrinhoâ€.

O que você achou do Capital Challenge?

Foi tudo muito bem organizado, estrutura nota mil, tratamento de primeira para os atletas. Atenção total dos organizadores, Mr. Zaid e seu fiel escudeiro, Pedro Galiza. O cronograma correndo certinho, imparcialidade. E sem contar a premiação motivadora. Eu vi que a parada estava boa mesmo quando perguntei na recepção do hotel, só para checar, em qual dos cinco restaurantes que tinham no hotel eu poderia comer. O rapaz, que estava teclando e ao mesmo tempo me olhando por cima dos óculos, falou que eu poderia comer o que quisesse e onde quisesse, pois era convidado da família Real... Foi só festa (risos). Fiquei amarradão! Eu chegava no restaurante de frutos do mar e as lagostas até se escondiam nos aquários (risos)!

O que espera para este ano na sua carreira de lutador?

Já comecei minha temporada e espero o melhor. Garanto que vou estar em todos os campeonatos e muito bem treinado. O resultado, só Deus sabe.

Você vai lutar o Europeu de Jiu-Jitsu? E a seletiva do ADCC?

Vou estar firme e forte no Europeu, lutando o peso e absoluto, seleções, luta casada... O que tiver (risos). Quanto a Seletiva, nem fala isso que fico triste, bicho... Meu sonho é lutar o ADCC, mas sempre acontece algo. Um ano operei apendicite, no outro machuquei o joelho e, agora, minha academia recém-aberta na Inglaterra e não tenho como deixar às moscas por duas semanas e ir para o Brasil, mas ainda tenho esperanças de acontecer algo.

Qual é o seu maior sonho no Jiu-Jitsu?

Cara, meu maior sonho já está sendo realizado, que é poder continuar competindo. Você não tem noção de tudo o que eu passei, os médicos me desacreditando. Não só poder voltar, mas voltar e vencer! Caraca, isso é mais que qualquer sonho. Eu sou um cara de muita sorte, pois Deus me deu uma segunda chance de continuar fazendo o que eu mais amo. Mas, se conseguir lutar o ADCC e ser campeão mundial, ficaria completo.

Você fez uma luta de MMA e venceu. Pensa em voltar aos ringues?

Penso, mas assim que aparecer uma boa proposta.

Fonte:Tatame

Exemplo de superação galera. vale a pena dar uma lida na entrevista.

Editado January 23, 2009 por pluto mma