Entre para seguir isso  
pmbok

Almanaque dos Mundiais (Jiu-Jitsu)

Recommended Posts

Almanaque dos Mundiais - Parte 1 (1996-97)

Almanaque01.jpg

RENZO GRACIE, nas vezes de árbitro, observa atento Amaury Bitetti levantar na guarda de Gurgel. Já que o companheiro Libório não o enfrentaria na final, a vitória deu a Bitetti o primeiro título mundial absoluto da História.

1996

Fazendo História

Como surgiram os primeiros campeões mundiais de Jiu-Jitsu da faixa-preta

A área de aquecimento tem poucos atletas. Nos tatames, Ricardo Libório encara o adversário. Remco Pardoel devolve o olhar. Baixo e atarracado, aquele considerado na época pelo Mestre Carlson como seu melhor aluno em atividade fica ainda menor de joelhos dobrados. A postura é para se prevenir das quedas do holandês. O Tijuca Tênis Clube está aquecido pelo verão carioca. Quase quatro mil pessoas nas arquibancadas se levantam quando "Liba" fecha as pernas em torno do quadril de Pardoel, escala-as apoiando-se nas largas costas do oponente e, finalmente, completa a chave no braço esquerdo. Vitória brasileira. Mais uma.

O I Mundial de Jiu-Jitsu foi realizado no primeiro fim de semana de fevereiro de 1996, no Rio de Janeiro. Teve a participação de lutadores de nove países: Brasil, Estados Unidos, França, Japão, Holanda, Suíça, Emirados Árabes, Itália e Cuba. Para trazer lutadores estrangeiros, houve uma luta mais dura que a de Libório descrita há pouco. Afinal, o Jiu-Jitsu engatinhava em lugares afora Brasil e EUA. Os poucos focos eram de difícil comunicação, já que o acesso a internet ainda se expandia a passos de tartaruga. Ainda sim, veio um punhado. E alguns conseguiram boas colocações (na faixa-azul). Do Brasil, os melhores se inscreveram, tal qual aconteceria nos anos seguintes.

Almanaque02.jpg

Roleta grampeia as costas de Wallid, e a autoridade de Sergio Ignácio registra quatro pontos.

É domingo, dia 3 de fevereiro, dia da faixa-preta. O ambiente é bem diferente daquele dos atuais campeonatos. Poucas lutas para o título, muito respeito e silêncio na arquibancada. Helio Moreira, o folclórico Sonequinha, abre as disputas, contra Otávio Couto, o Ratinho. A vitória de Soneca vem numa luta parelha, mas um ataque pouco usual nas costas faz os espectadores aplaudirem, pela primeira vez no dia. Soneca apóia a cabeça no chão, se pendura nas golas de Ratinho e, feito um compasso, traça um arco em volta do adversário, saindo de um lado, chegando no outro. Ele daria o nome ao movimento: "volta ao mundo".

Mas é o mundo que gira em torno de si por algumas horas após a cena, enquanto faixas-pretas se credenciam para as finais. Royler Gracie vence com autoridade Marco Aurélio, e consegue a revanche do último Brasileiro. Antes que chegue à decisão contra Vinicius Draculino, passa por João Roque, em outra grande luta. Jamelão, no médio, despacha um grande mito do Jiu-Jitsu: Sérgio Penha, que voltara a competir cerca de 15 anos após memorável combate contra Rickson Gracie, numa decisão de campeonato carioca. Algumas chaves são interrompidas por que lutas importantes se desenharam. A espera é pelas duas da tarde, quando, ao vivo, o Sportv começa a transmitir o evento.

A História, ao vivo

No início do televisionamento, surge na área de lutas o então mais famoso lutador de Jiu-Jitsu sem sobrenome Gracie: Wallid Ismail. Seu adversário na semifinal do meio-pesado é Roberto Magalhães, o Roleta, que fora graduado a quatro dias da competição. "Se eu perder, corto a minha mão", prometera o amazonense. Talvez Wallid estivesse preparado para lutadores de Jiu-Jitsu. Mas não para o "esqui-jitsu". Por mais de nove minutos, no entanto, ele parece sem risco de ficar cotó. Se embola nas longas pernas do adversário, e mantém-se com boa base, combatividade suficiente para uma vitória por decisão. Só que, a segundos do fim, a estranha alavanca funciona, e Roleta, após projetar Wallid com uma das pernas entre as do rival, pára nas costas, enganchado, senhor de quatro pontos que lhe catapultam para o time de melhores do mundo.

Almanaque03.jpg

No único filme colorido usado por Ricardo Azoury, Gordo usa a guarda para conter Jamelão.

Murilo Bustamante x Fábio Gurgel. É de se estranhar que dois dos melhores lutadores da década passada pudessem ter se enfrentado apenas uma vez na faixa-preta até esta final do peso pesado. Mas a freqüência de confrontos diretos era, de fato, muito menor antigamente. Gurgel, que havia perdido em 1993, aproveita a chance e, com uma queda e uma passagem, vence o combate por 5 a 0.

Almanaque05.jpg

Gurgel busca passar a guarda de Bustamante para levar o pesado.

Outra revanche, também de 1993, na final do super-pesado: Ricardo Libório vai atrás de seu único algoz até então na carreira, Leonardo Castello Branco, que o ganhara na faixa-marrom. A gana é grande, e o prêmio alcançado. Uma queda, uma quase montada, e enfim a eletrizante vitória do lutador da Carlson.

Almanaque04.jpg

Com o joelho na barriga do adversário, Royler procura o juiz e se certifica que a posição foi computada.

Soneca é campeão ao vencer Wellington Megaton no pluma, Royler ao derrotar Draculino no pena, e Roberto Gordo ao se impor sobre Jamelão no médio. Zé Mario vence o pesadíssimo sem disputar a decisão (Roberto Traven, de ombro contundido, retira-se). Paulo Barroso no leve, leva o título, após chegar na final com o companheiro de equipe Renato Barreto que, por sua vez, tinha sido beneficiado por não lutar a semifinal: deparara-se com o recém-graduado (e também da Gracie Humaitá) Saulo Ribeiro, aquele se tornaria, nos anos seguintes, o maior detentor de títulos mundiais em anos distintos da faixa-preta (1997, 1998, 1999, 2000 e 2002).

Almanaque06.jpg

Soneca monta com classe na final do pluma.

Amaury absoluto

Após a vitória sobre Wallid, Roleta ainda não tinha acabado sua missão. Enfrentaria, na final, Luis Bebeo pela briga do ouro meio-pesado. Ele conta: "Foi uma grande festa após a vitória sobre o Wallid, mas eu queria mesmo era ser campeão, queria ser reconhecido pelo título, não por uma única vitória em cima de alguém, ainda que tenha sido uma vitória especial. Então, não me deixei contagiar, voltei para a arquibancada, botei meu walkie-man na orelha e me concentrei. Me preparei para outra luta dificílima, afinal o Bebeo era outro lutador bastante conhecido na época, mas acho que ele se assustou. Acabei pegando ele no triangulo".

Almanaque07.jpg

Jamelão despacha o veterano Sérgio Penha.

Foi nesse passo, com os descontos para os desvios que a memória e os registros possam ter, que aquele memorável dia transcorreu, até o momento da luta entre Libório e Pardoel "conhecido por suas participações no então mais recente frisson das artes marciais, o UFC" pela divisão absoluto. Pelo outro lado da chave, e logo após a vitória do companheiro de equipe, entra em cena o melhor competidor da época, Amaury Bitetti. Seu adversário pela semifinal do absoluto é Fábio Gurgel. A quem Bitetti já tinha enfrentado inúmeras vezes, e perdido apenas uma.

O registro, no entanto, é apagado. Afinal, agora começou a era dos mundiais. E Bitetti, com boa base e jogando por cima, leva a melhor. A luta tem pouca ação, mas quem pode reclamar após assistir à final entre Roger e Jacaré dez anos depois? Libório abre passagem, e Bitetti se torna campeão mundial absoluto. O primeiro da História.

Almanaque08.jpg

Bebeo comemora ao fundo a passagem à final do meio-pesado enquanto Ricardo Americano, com o gesto semelhante, contesta a decisão do juiz.

1997

Almanaque11.jpg

Royler agarra Shaolin pelo pé para conquistar o pena.

Bitetti and Royler...

... sobram num Mundial marcado pela transição, W.O.s, e uma cassetada de fazer inveja ao Faustão

A luta foi melhor que a do ano anterior, o resultado o mesmo: vitória de Bitetti, que se manteve por cima e tentou passar a guarda, soltando até uma estrela para tal. Levou não por pontos, mas na decisão do juiz. O placar foi, sim, alterado na semifinal entre os dois grandes nomes do campeonato, Royler e o próprio Bitetti. Neste confronto, o Gracie queria jogar por cima, mas foi surpreendido logo no início por uma passa-pé, e tomou dois pontos que lhe custaram qualquer chance de sair vitorioso do seu sétimo compromisso do dia.

Almanaque12.jpg

A queda com que Amaury encurtou os planos de Royler no absoluto.

Bitetti optou por não lutar na categoria de pesos e ainda foi beneficiado pelo W.O. de Nino Schembri, que abandonou o ginásio e a disputa do absoluto após a derrota para Saulo Ribeiro na final dos médios. Assim, enquanto Amaury havia enfrentado, até ali, apenas Alexandre Paiva, e vencido por uma queda e uma passagem de guarda, Royler suou feito um triatleta, com seis vitórias antes de encarar o eventual campeão.

Almanaque13.jpg

Por cima, Zé Mario venceria Gordo mas não voltaria para lutar a semifinal do absoluto.

O professor da Gracie Humaitá derrotou, no pena, Luis Amigo e Otávio Ratinho por finalização. Venceu Alexandre Soca por pontos e fez talvez a melhor luta da faixa-preta contra Vítor Shaolin, na finalíssima. Não satisfeito, ciscou entre os mais pesados, onde derrotou Arthur Ignarra e Léo Dalla antes de parar em Amaury.

Os W.O.s foram uma característica da principal categoria naquele ano.

Alguns atletas, após a disputa de seu próprio peso, desanimavam. Três anos depois, a CBJJ passaria as lutas do absoluto para sábado, e assim diminuiria este problema. Não resolveria um caso como o de Zé Mario Sperry, que acabou poupando Fabio Gurgel de uma semifinal. Ele havia vencido Saulo e depois Roberto Gordo. Contra o hoje professor da Gracie Barra Combat Team, chegou o mais perto de uma derrota na carreira esportiva até então. Perdia a luta até os momentos finais, quando conseguiu prender um braço do adversário com o próprio kimono e, para alívio da torcida da academia Carlson Gracie, passou a guarda e virou o placar. Exaurido, Sperry abandonou a chave após a peleja.

Almanaque14.jpg

Márcio Feitosa controla Leozinho para inaugurar os "clássicos leves" dos mundiais.

Pelo menos dois grandes personagens da faixa-preta naquele ano não figuraram no absoluto: Márcio Feitosa e Leonardo Vieira, finalistas até 73kg. Nos anos seguintes, e com a adição de Vítor Shaolin à categoria, os três fariam entre si os maiores clássicos dos mais leves em Mundiais, até hoje. Naquele ano, vitória de Feitosa.

Almanaque15.jpg

Saulo puxa Nino, garante o ouro e, indiretamente, facilita os trabalhos de Amaury no absoluto.

Destaque em 1996, Roberto Roleta voltou a gravar seu nome na competição, ao fechar o meio-pesado com o xará Gordo. Como a Gracie Barra já tinha dois representantes, ele guardaria a sua estréia no aberto para 1998. Mas isso é assunto para a próxima edição.

Almanaque16.jpg

Timoneiro da Nova União, Dedé Pederneiras pára na guarda de Renato Barreto, eventual semifinalista até 73kg.

Entrevista "Ricardo Liborio"

Almanaque09.jpg

Libório: "Depois do Mundial viu-se que o Jiu-Jitsu vendia e podia ganhar a TV"

No primeiro e único Mundial em que se elegeu os atletas mais técnicos de cada faixa, o nome de Ricardo Libório levou com sobras o prêmio na preta. O que esse título representa hoje para você?

Fiz parte de uma geração que entrou para a História, até mesmo por ter sido uma das primeiras. Então considero esse título bastante especial e tenho muito orgulho até hoje, só posso dizer isso. Foi importante, e não só pelo I Mundial ter sido o primeiro grande campeonato organizado. E acabou sendo o único título de mais técnico concedido. Depois desse não elegeram mais ninguém, devia ser um problema. Mas não tenho a mínima idéia por que não elegeram mais.

O que você acha que realmente impressionou o júri?

Certamente o fato de ter finalizado cinco das seis lutas que fiz no dia se não me engano. Só não finalizei a semifinal do absoluto, contra o Léo Castello Branco. O fato de as finalizações terem acontecido contra caras muito mais pesados e bons, como o judoca Marcelo Figueiredo e o holandês Remco Pardoel, no armlock, fez a diferença na hora da escolha.

Qual foi seu momento mais marcante no Mundial?

Eu era um cara de 83kg lutando numa categoria bem acima. Me inscrevi na categoria bem mais pesada para lutar com o Léo Castello Branco, era a minha missão nesse Mundial. Eu tinha perdido pro Léo em 1993 e tinha sido o único cara a me derrotar em campeonatos, então eu tinha que lutar com ele de novo. Sabia que tinha condições de ganhar dele e então me preparei melhor, e aconteceu. Foi uma queda ou uma passagem, por pontos, não lembro exatamente. Esse sem dúvida foi o momento mais marcante. Hoje acho o Léo um cara excepcional, um dos caras mais maneiros e que mais respeito no esporte. Ficamos grandes amigos.

Ainda que você tenha sido o mais técnico, você não saiu como o campeão absoluto, fechando com o Amaury Bitetti e dando o título para ele. Você se considera em parte campeão absoluto também? É outra situação que mudou com os anos, notadamente quando em 2003 Márcio Pé de Pano e Roger Gracie decidiram lutar à vera sendo da mesma academia...

Exato, isso não existia na época. Ocorreu que eu já havia ganhado o peso. Quando fui à semifinal com o Léo e ganhei, o Amaury ganhou o absoluto, eu já havia ganhado uma no peso, não faria sentido. Não me considero de maneira nenhuma também campeão absoluto de 1996, seria tirar o mérito do Amaury. Não faço isso, não sou assim. Foi até um acordo que fizemos antes da luta, passei pra ele e não tem problema nenhum. O Amaury foi o campeão absoluto e não me considero nada, não.

E você não lutou mais depois do Mundial de 1996. Por que parou ali?

Eu já estava vendo outras coisas para minha vida. Trabalhava como gerente do Banco do Brasil e era um trabalho full-time, não tinha muito como dividir.

O que mudou a partir desse primeiro Mundial?

Na época em que a gente começou não existia praticamente campeonatos de Jiu-Jitsu. Era época de uma galera como o Murilo, Fábio Gurgel, Royler e tinha no máximo um campeonato por ano, o "Armazém do Esporte", nem lembro. Eram muito esparsos, hoje a freqüência é absurda. A Company realmente veio com o primeiro grande campeonato, dali o negócio começou a se desenvolver. O I Mundial, em 1996, foi um evento enorme: foi a primeira vez que tivemos TV ao vivo. Vejo esse Mundial de 1996 como um grande marco para o Jiu-Jitsu, porque depois dali todos viram que o Jiu-Jitsu tinha potencial para crescer e se espalhar pelo planeta. Viram que tinha condição de ser um esporte organizado, televisionado sem problema nenhum, e que vendia e atraía os patrocinadores. Marcou ainda pelo lado do profissionalismo: a partir dali muita gente viu que tinha capacidade para se dedicar profissionalmente ao negócio e participar de eventos grandes. Os atletas tornaram-se profissionais.

E hoje você lidera a American Top Team, na Flórida. Quem foi melhor, o Libório lutador ou o Libório córner?

Pois é, hoje a velha geração está sempre nos EUA, ou viajando pro Japão... Minha missão hoje é muito mais essa, não tem como comparar. O Libório lutador não existe mais. Já fez o que tinha que ter feito. O Libório dono de time, promoter ou seja lá o que vier pela frente é que tem a missão principal agora. Lutar é uma coisa que abdiquei há muito por causa disso, e nosso time tem condição de se tornar o melhor do mundo. O Libório não é mais lutador. E o Libório córner está vencendo mais que o Libório lutador, e ganhando melhor também (Risos).

Você na década de 90 se notabilizou na grande imprensa por pregar a paz e o Jiu-Jitsu nos Jogos Olímpicos. Hoje largou essa bandeira?

Era uma época diferente. O Rio de Janeiro disputava a chance de se tornar cidade-sede das Olimpíadas e era uma grande chance para atrair para o Jiu-Jitsu pelo menos um pouco de atenção. O Jiu-Jitsu continua crescendo pelo mundo, mas ainda não tem um nível de organização e um número de atletas faixas-pretas necessários para chegar lá. Ao meu ver ainda vai demorar uns bons anos, afinal faltam faixas-pretas para todos os pesos nos demais paises. E ainda tem que ter a mesma estrutura no feminino. Depende muito de investimento de marketing, professores habilitados em todos os países, tem muita coisa a ser feita. E não é culpa de ninguém, é algo muito difícil mesmo, um tremendo investimento que ninguém tem condições de fazer sozinho. Então acho que o grappling ou submission wrestling está até um pouco mais avançado nesse sentido, é um esporte que tem uma grande possibilidade por ter mais corpo nos EUA, mais praticantes jovens, mais suporte e mais investimento. O pessoal do wrestling nos EUA, que tem mais nome e patrocínio, com uma adaptação rápida consegue disputar no mesmo alto nível dos brasileiros.

Entrevista - Wallid Ismail

Almanaque10.jpg

Wallid: "Em nossa época quem perdia estava acabado"

A luta que mais marcou o I Mundial de Jiu-Jitsu, em 1996, foi sua derrota para Roberto Roleta nas semifinais do peso. Como você vê aquela luta hoje?

Aquele Mundial foi uma loucura, sempre tive aquela cabeça de psicopata, vencer ou vencer. Mas, faltando 20 segundos, perdi. Lembro que saíram páginas inteiras no "O Globo" e no "Jornal do Brasil": "Cai invencibilidade de Wallid", pois eu nunca tinha perdido na faixa-preta. Então me lembro como se fosse hoje, meu irmão: levantei a cabeça e fiquei esperando para receber meu trofeuzinho de terceiro lugar.

Depois do campeonato, fui à festa dos campeões organizada pelo José Moraes, ninguém esperava que eu fosse aparecer. Mas meu espírito é de vencedor. Lá, o José Moraes, que todos sabem ser um apaixonado pela família Gracie, falou: "Wallid, vou te dizer, você é um cara que faz bem pro Jiu-Jitsu, sempre promove, do seu jeito, o esporte e faz as pessoas falarem de Jiu-Jitsu.

Quando a gente perde vem momentos difíceis, então se você estiver precisando de patrocínio fala comigo segunda-feira". Dito e feito, arrumei o patrocínio do Iate Clube. Dois meses depois fui para o Japão e ganhei um puta evento lá. Fui um dos pioneiros, um dos primeiros brasileiros do Jiu-Jitsu depois da família Gracie a ir lutar pro Japão [O U-Japan, em novembro de 1996], eu e Carlão Barreto.

Como foi sua trajetória no campeonato até a famigerada raspagem?

Venci primeiro um cara de São Paulo, meu amigo hoje, esqueci o nome. Depois já foi a luta com ele [Roleta], era disputa de cinco faixas-pretas no máximo pelo título. A rivalidade me motivava, o pessoal cantava "O paraíba é mau, pega um, pega geral" e eu tava ganhando até 9m40s. Faltando 20 segundos o cara foi, me raspou e foi pras costas. Era uma raspagem boa que ele tinha, contou só os pontos das costas porque eu não caí embaixo. Já na época eu falei, ele venceu, parabéns para ele. Não fiquei de caô. E a vida continuou. As pessoas viram o valor que eu dava para o esporte. Nunca fui um cara talentoso mas poucos treinaram como eu.

O que você faria diferente hoje nessa luta?

Agora é mole de falar (risos). Se eu levanto, acabava a luta, afinal eu tinha a vantagem de ter ficado na meia-guarda... Falar agora é mole! Mas valeu. Espero que ele tenha tido bons frutos depois daquela vitória, que ele tenha tirado o suco da laranja. Porque toda minha vitória eu espremia o suco da laranja até não ter mais nada, só o bagaço (risos).

Por que o Mundial de 1996 foi seu último campeonato de kimono?

Depois dali eu não quis mais, comecei a lutar vale-tudo e não dava mais para treinar como um condenado e não ganhar nem um tostão. Mas depois disso fiz minha última luta de kimono com o Royce [na arena em Copacabana].

O que mudou do seu tempo para os Mundiais de hoje?

Na minha época quando se perdia você estava acabado. Hoje o pessoal perde e ganha e vai levando adiante. No meu caso, ninguém comemorava mais as vitórias do que eu, mas em compensação ninguém era mais sacaneado que eu nas derrotas. Tudo tem um preço. Nas derrotas o atleta tem que cumprimentar o oponente com hombridade e dizer: "É isso aí, é a sua vez de comemorar".

Que momentos mais o marcaram depois, já como espectador?

Fiquei um tempão sem ir assistir aos Mundiais e, há uns três anos, dei de cara com o Tijuca Tênis Clube lotado e muito bem organizado. Aquilo para mim foi a maior emoção. Hoje o Mundial é um show e tem um profissionalismo muito grande. As empresas têm que investir no Mundial. O Carlinhos faz um excelente trabalho. Sinceramente, fui o cara que mais critiquei o Carlinhos, zoei mesmo, mas hoje vendo por esse olhar de promotor, vejo que ele fez um trabalho sensacional. Não vou dizer que me arrependo porque não me arrependo de nada do que fiz. Mas hoje vejo a guerra que é armar um evento, três horas de sono no máximo, então olho para trás e bato palma para o que foi construído porque todo promotor é um guerreiro.

No que a experiência como atleta de Mundiais o ajuda na sua profissão hoje?

Em tudo. Mas há uma diferença: atleta é coração puro, e promotor, como aprendi com Antonio Inoki, não pode ter sentimentos, "no feeling". Ninguém teve mais confusão do que eu com a Gracie Barra e a Brazilian Top Team, mas depois como promotor vi que não tinha nada a ver. A nova geração não conheceu a loucura dessa época pré-Mundiais, a paixão, as rivalidades. Para o lado romântico era bom, mas para o lado profissional não era. Hoje conseguir patrocínio ficou mais fácil, o Jiu-Jitsu é o esporte do momento. O Mundial é uma fase recente do Jiu-Jitsu, gosto de lembrar das Copas Light Boat e Company, que aliás foi a primeira grande empresa a acreditar no Jiu-Jitsu. Na minha época, fui o primeiro cara da história do Jiu-Jitsu a botar marcas no ombro dos kimonos, além das costas, a ter uma assessoria de imprensa. Na minha opinião então, o que faz o esporte é a mídia e os patrocínios. Quando lutei com o Renzo, saímos cada um numa página inteira da edição de domingo do "Jornal do Brasil". Depois de vencer o Renzo e o Royce não conseguia andar na rua! Então sempre pensei grande. Depois de ganhar do Royce, berrei: "Só falta o Rickson!" Não nasci pra ser um cara mais ou menos, era calça de veludo ou bunda de fora.

Há alguma luta de kimono que ainda gostaria de fazer?

Tô legal de lutar de pano. É bonito de se ver, mas tô legal. Que Deus abençoe essa excelente nova geração de atletas e que logo depois façam transição para o MMA para defender o nome do Jiu-Jitsu. Esse para mim é o caminho, apesar de hoje não precisarmos provar nada pra ninguém. Hoje é mais tranqüilo. Eu sou da época que me perguntavam, "what is Jiu-Jitsu?", perguntavam se era igual karatê. Tá entendendo ou não?

Fonte: http://www.graciemag.com/news/168/ARTICLE/...2007-09-18.html

Editado por pmbok

Compartilhar este post


Link para o post
Compartilhar em outros sites

E em 95?

pensei que tivesse sido o primeiro mundial

Compartilhar este post


Link para o post
Compartilhar em outros sites

Almanaque dos Mundiais - Parte 2 (1998-99-2000)

1998

Sacode, Zé Mario!

O apogeu de Roleta e Sperry num dos mundiais mais emocionantes da História

ALMA_98_01.jpg

Após destruir a calça rota de Roleta (detalhe), Zé Mario opta por jogar por cima e sacode o adversário pelos fundilhos para ser campeão absoluto.

As mangas de Sperry estão dominadas. Ele então sacode. Mais de dois anos tinha se passado desde que Roleta vencera Wallid, no primeiro Mundial, mas a sua guarda permanecia indecifrável. Naquele mesmo domingo, 26 de julho, mais cedo, Roleta fora responsável pela quebra de uma invencibilidade de 11 anos do lutador da Carlson (hoje líder da BTT) em sua carreira de Jiu-Jitsu, na categoria super-pesado. E agora, na decisão do absoluto, os dois lutadores, no auge de suas carreiras, voltam a se encontrar.

O tempo de luta da faixa-preta é de dez minutos. Mas entre o início daquele confronto e o levantar do braço de Sperry transcorreram uns 20, pelo menos. Em volta do ringue, dezenas de lutadores assistiam e pressionavam o faixa-preta Paulo Caruso, escalado como juiz central. O cronômetro, instalado para informar o público, apaga-se logo de início.

Numa estratégia para anular o que Roleta tinha de mais temível, Sperry começa puxando para a guarda. O campeão super-pesado, feito um polvo, anula as fortes pernas do adversário e o obriga a virar de costas para não ceder a montada. Para evitar o último gancho e com ele os pontos, Zé Mario puxa a perna de Roleta pela calça. Carcomida, ela rasga em toda a extensão. Pára a luta. Troca a calça, volta em pé. Agora, Roleta vem por baixo, Zé Mario sacode

6_Saulo.jpg

Após derrubar Gurgel, Saulo se posiciona por cima para vencer a categoria pesado.

O tumulto acontece quando os dois saem do ringue e Sperry emenda num relógio. O juiz mandara parar, mas quem além dos dois pode ter escutado? O público berra, comemora, vaia. Os espectadores mais cascas-grossas do planeta invadem a área de lutas.

Fim da discussão, o combate reinicia, vantagens inadvertidamente sendo acrescidas no placar dos dois atletas. A platéia é especializada, mas ninguém entende muito bem o que ocorre. A síntese, tosca, e não há como fugir dela nem com o videoteipe, é esta: Zé "Máquina" sacode. E sacode. Ao fim, por quatro vantagens a três, num placar sem pontos, a redenção: Sperry é, pela primeira (e única) vez, campeão mundial absoluto.

ALMA_98_05.jpg

A invasão do ringue após a decisão do aberto.

Os dois protagonistas da final do aberto foram os grandes nomes do terceiro mundial. Mas não é tão fácil chegar a essa conclusão como pode sugerir o fato de eles terem chegado à decisão mais importante. Foi um campeonato marcado por grandes lutas, imagens, e destaques individuais. Saulo Ribeiro sagrou-se campeão peso pesado. Foi um grande ano para ele, o melhor de sua carreira. E apesar da ausência na categoria aberta, o aluno de Royler torneou seu nome à História ao passar por Murilo Bustamante e Fabio Gurgel seguidamente naquele dia.

ALMA_98_06.jpg

Leozinho dá cambalhota e segura o pé de Feitosa rumo ao título do leve.

Royler sagrou-se tricampeão, indiscutivelmente, Leozinho conseguiu a revanche sobre Márcio Feitosa, em final disputadíssima do leve. Fernandinho Vasconcellos veio da Califórnia para passar por Jamelão e levar o médio.

Roberto Traven derrotou Johnny Machado no pesadíssimo e Nino Schembri foi espetáculo à parte da competição, fechando com Rafael Gordinho o meio-pesado depois de se movimentar feito um tornado sobre seus adversários.

ALMA_98_04.jpg

Nino mostra por que ser alongado em uma de suas blitze para conquistar o meio-pesado.

Rapidez contrastante com a paradinha durante uma luta para a pergunta ao juiz: "Posso estrangular com minha faixa?". Ausência marcante no absoluto, Schembri deixou para o parceiro Roleta a pepinosa de ter que enfrentar a dupla da Carlson Murilo e Sperry, sem ajuda nem explicação. Mas o inventor do esqui-jitsu, que por isso mais méritos tem com o ouro e prata daquele ano, não tem do que reclamar. Tampouco Zé Mario, o maior sacudidor do planeta!

1999

Ainda azarão

Comprido surpreende Roleta e Zé Mario e leva título

ALMA_99_01.jpg

Comprido arrocha o pé de Roleta num golpe pouco visto até 1999.

Roberto Roleta era o favorito contra o recém-promovido à graduação máxima Rodrigo Comprido. Naquela noite de domingo, 23 de julho, quase segunda-feira, caberia aos dois finalistas da faixa-preta absoluto, além de decidir o título individual mais importante da competição, a sorte de suas academias. Pelo segundo ano consecutivo, após quase oitocentas lutas, a última definiria a colocação por equipes do Mundial.

Como em 1998, Gracie Barra e Alliance brigavam pelo primeiro lugar, e dependiam apenas da vitória de seus atletas no último combate. Em 1998, Rolles Gracie foi desclassificado da final roxa absoluto e viu a Alliance de Fernando Tererê sair campeã. Agora, não houve punição, mas também um resultado surpreendente. Com uma americana no pé, golpe raro em 1999, Comprido fez Roleta bater rapidamente e foi parar nos cangotes dos poucos companheiros de equipes que agüentaram no Tijuca Tênis Clube até o fim daquela noite para comemorar o bicampeonato da Alliance.

ALMA_99_02.jpg

Royler de boca aberta contra Léo Santos, em seu último Mundial.

Antes de encarar Roleta, Comprido fez a proeza de derrotar o campeão absoluto do ano anterior, Zé Mario Sperry, por uma vantagem. Pelo outro lado da chave, Roleta faz uma semifinal disputadíssima com um baiano pouquíssimo familiar aos faixas-pretas: Rodrigo Minotauro, que disputava seu único campeonato na graduação máxima, e engatinhava no mundo do vale-tudo. A vitória do engenheiro vem por decisão do juiz, após empate em 4 a 4 nos pontos.

Tornozelo torcido, o bicampeão absoluto 1996/97, Amaury Bitetti, nem foi ao estádio em 1998, frustrado por não poder tentar a tripla conquista. Em 1999, quando ele apareceu, a fila tinha andado. Não lutou o absoluto. E, no peso, foi superado por Roleta, que conseguiu, com até surpreendente facilidade, o que ninguém jamais fizera: raspar um dos atletas de melhor base que o Jiu-Jitsu de competição já viu. No entanto, além da inesperada derrota na final absoluto, Roleta amargaria outro revés naquele dia, horas antes. Perdeu por duas vantagens para Saulo Ribeiro na decisão do meio-pesado. Foi uma luta que Saulo desenhou e redesenhou antes de levar para os tatames, onde o edifício ficou de pé tal qual o projeto. Puxou para a guarda junto com Roleta e foi para cima. Vantagem. Fintou uma chave de pé, ganhou outra vantagem, e voltou a fazer guarda. A partir de então, administrou o placar, e superou o rival.

ALMA_99_03.jpg

Murilo trabalha a passagem contra Gurgel.

O professor de Saulo, Royler Gracie, sagrou-se tetracampeão do peso pena. Pelo caminho caíram adversários em lutas disputadíssimas: Soneca, Leonardo Santos, Leonardo Vieira. A disputa contra o Léo da Nova União foi uma sucessão de raspagens de ambos os lados, não sem direito à gritaria do lado de fora e contestação em algumas posições. Já contra Vieira, na decisão, Royler foi tático e frio. Em vez de tentar ficar de pé na guarda fechada de cambalhotas que havia vencido Feitosa no ano anterior, o Gracie não levantou, e fez força para abrir apenas pressionando o joelho. Nada aconteceu. Nem ele se livrou das pernas, nem Léo chegou perto de qualquer desequilíbrio, e o que poderia ser uma grande luta acabou sendo ofuscada pelo acontecimento em si: o título e, posteriormente saberíamos, a última apresentação em Mundiais daquele escolhido pelos atletas como o melhor do Jiu-Jitsu nos anos 90.

E se Vieira, desta vez no peso de baixo, não enfrentaria seus maiores oponentes, Vítor Shaolin e Márcio Feitosa, coube a estes dois se encararem na decisão dos leves. Uma queda para Feitosa, uma raspagem para Shaolin. Empate nos pontos, uma vantagem determinaria a vitória do atleta da Nova União, na primeira vez que se enfrentaram em Mundiais, e a quarta da carreira, àquela altura.

ALMA_99_04.jpg

Paiva abraça as costas de Atalla e assegura o ouro do médio.

No médio, Alexandre Paiva chegou ao topo. Na finalíssima de uma categoria que tinha Jean Jacques, Cachorrão, Jamelão, Haroldo Cabelinho e Rafael Gordinho, Paiva aplicou uma queda sobre Roberto Atalla e marcou os dois pontos de um título caçado desde 96. Perseguição a este ouro também foi a síntese da vitória de Murilo Bustamante, na categoria pesado. Nos anos anteriores, ele esbarrara em Saulo, Roleta e em Gurgel. E foi em cima deste último, por uma vantagem, que ele teve êxito em sua última luta, a semifinal. Do outro lado, lhe abriria o caminho Paulão Filho, algoz do eventual campeão absoluto, Comprido, na categoria.

ALMA_99_05.jpg

Roleta e o primeiro desequilíbrio de Bitetti em competições.

Muito se fala da luta de Roleta com Minotauro naquele ano, mas o fato é que Roberto Traven também venceu o baiano, no pesadíssimo, e fechou a categoria com Leonardo Castello Branco. Lembra Traven que fez tanta força, mas tanta força, que no momento em que a luta voltou em pé, chegou a ver dois adversários.

ALMA_99_06.jpg

Léo Leite anula uma das tentativas de inversão de Sperry.

Sperry, tal como Roleta, perderia uma segunda vez em 1999, antes da semifinal contra Comprido. Foi na briga pelo ouro super-pesado para Leonardo Leite, que conseguiu evitar as pegadas do atleta da Carlson e impor seu jogo por cima. Seis anos depois, Sperry apontaria um erro tático na sua apresentação. Era tarde demais. Tática era a maior arma dessa nova leva de atletas, como bem mostrou Comprido no finzinho de noite daquele domingo. E voltaria a mostrar no ano seguinte.

2000

A consagração

Comprido vence Nino e Margarida e conquista o bi, no ano em que o absoluto passa à frente das categorias

ALMA_2000_01.jpg

Comprido contém a ida para as costas de Nino Schembri, que acabaria finalizado.

Comprido e Margarida brigam pelo ouro absoluto da faixa-preta. A luta é movimentada, mas o controle do atual campeão é notável. Apesar do esforço adversário, o representante da Alliance não sofre nenhum perigoso ataque, e mantém-se por cima à margem das tentativas de desequilíbrio do rival paulista. Ao fim, a vitória consagradora do segundo bicampeão absoluto da história dos Mundiais. Com uma marcante diferença em relação aos outros anos: a luta aconteceu no sábado.

Em 2000, uma aparentemente pequena mudança no cronograma do Mundial foi responsável por uma verdadeira revolução na competição. Até então, a categoria mais importante do Jiu-Jitsu - o absoluto faixa-preta - era disputada depois das categorias de peso, com uma chave pré-desenhada. Era então marcada pelo desequilíbrio: W.O.s, atletas frescos por não terem lutado o peso, lutadores mortos por terem tido trajetória desigual naquele mesmo dia.

ALMA_2000_02.jpg

No clássico Shaolin x Feitosa, melhor para o guardeiro Vítor.

Quando os atletas passaram a se inscrever a horas da disputa, e a disputar o aberto antes de qualquer participação no campeonato, as condições se igualaram, e a categoria passou a correr com o estádio lotado e com os atletas no melhor de suas formas.

Nesse panorama, no dia 29 de julho, Rodrigo Comprido começa seu trajeto vencendo Leonardo Dalla. Na seqüência, enfrentaria quem para ele era o mais duro da chave: Nino Schembri. Mas antes, uma triste intermissão: Jean Mendonça de Mesquita, do Ceará, enfarta durante um combate da faixa-marrom, e morre em pleno ginásio.

Comprido se engaja na tentativa de ajuda, e, quando se dá conta, está no ringue enfrentando Nino. Aplica uma queda, quase toma uma pegada de costas em pé, faz guarda, o adversário passa mas, antes de estabilizar, toma uma chave kimura. Rodrigo inverte e... Pega um dos maiores finalizadores do Jiu-Jitsu.

ALMA_2000_03.jpg

O "louro" Tererê na guarda de Schembri.

Do outro lado, Margarida faz mais lutas, já que José Mario Esfiha, da academia do campeão absoluto, também chega à semifinal e abre passagem para Comprido. O paulista teve que passar por Francisco Mello, Alexandre Café, Flávio Cachorrinho e Leonardo Leite. Apenas o último escapou da finalização. E, claro, Comprido (cena da capa do Almanaque), que aplicaria uma queda e impediria Margarida de estrear na preta já abocanhando o maior título do Jiu-Jitsu.

No dia seguinte, domingão, o campeão absoluto voltou para tentar o título até 91kg. Perdeu para o campeão do ADCC Ricardo Arona. Cheio de moral pela conquista em meio aos wrestlers lá no Oriente Médio, o niteroiense raspou Comprido, mas, uma luta depois, parou na experiência de Fabio Gurgel que, por uma passagem de guarda, acabou campeão entre os pesados.

ALMA_2000_04.jpg

Gurgel na guarda de Ricardo Arona.

Nino também retornou, e atropelou todos os adversários antes da final dos médios. Foi quando esbarrou na tática do novato na preta Fernando Tererê que, com uma queda, frustrou Schembri, e comemorou seu quarto título mundial (um em cada faixa) à la Elvis Presley, num misto de homenagem e zoação ao adversário da última luta.

Shaolin voltaria a brilhar no leve, e novamente num clássico contra Márcio Feitosa, em novo confronto apertado e polêmico. Desta vez, Feitosa vencia até o último minuto da final, quando o juiz lhe aplicou punições em seqüência até tirar os pontos e dar a vitória ao atleta da Nova União. Antes, Feitosa havia vencido Léo Santos, e Shaolin pela primeira vez na carreira derrotara outro Léo, o Vieira. Os quatro melhores da categoria tinham finalmente se cruzado na chave do Mundial.

A ausência de Royler da competição abre vaga para um novo campeão no pena. E quem chega? Um estrangeiro. O primeiro a brilhar na faixa-preta. Trata-se do havaiano BJ Penn, que passa por Alexandre Soca, Frédson Alves e finalmente por Édson Diniz, e pendura no pescoço o tecido de seda que segura a medalha de ouro. Uma glória máxima anos antes de Penn brilhar no UFC e no K-1 como um grande nome também do vale-tudo.

Léo Leite é campeão do pesadíssimo, numa final em pé contra o judoca Aurélio Fernandez. Robson Moura, pentacampeão do pluma (em diversas faixas) ao vencer Marcos Parrumpinha. E Saulo, longe das competições há um ano e distante também da forma que o consagrou nos Mundiais anteriores, ainda assim vence o super-pesado sobre Daniel Simões e fatura mais uma douradinha.

ALMA_2000_6_7_8.jpg

BJ Penn passa a guarda de Diniz. - Omar Salum, ouro no galo, estrangula. - Da guarda, Robson Moura ataca Parrumpinha.

Se Sperry se aposentou nos kimonos após a derrota no ano anterior para Comprido na semi do absoluto, Roleta não acompanhou o arqui-rival. Voltou em 2000, e numa categoria meio-pesado repleta de grandes nomes, destaque para a final contra Margarida, que valeu a capa da edição 43 de GRACIE Magazine.

Com duas raspagens e defesa treinada da mesma chave de pé que o liquidara no ano anterior, Roleta saiu por cima, e deixou para o oponente de São Paulo apenas o cheiro da tinta dourada. Que ele farejaria feito um sabugo no ano seguinte, como veremos na próxima edição.

Entrevista: Roleta

Roleta: "O Jiu-Jitsu exigia dedicação de profissional e dava o retorno de amador"

ALMA_roleta99_2.jpg

Roleta carrega um boi, ou melhor, um Minotauro nas costas, numa de suas lutas mais marcantes, em 1999.

Tetra mundial (três no meio-pesado e uma no superpesado), como Roberto Magalhães "Roleta" revê hoje a derrota, numa americana no pé, para Rodrigo Comprido?

Encontro-me com Comprido em Mundiais e a gente se dá muito bem, conversa sobre a luta. Aquilo não me deixou mal, não. Tinha sido minha oitava luta no dia, eu vinha desgastado de luta dura com Minotauro, em que nos movimentamos muito. Era meia-noite já, e cheguei a falar: "Não vou lutar, estou morto". Lutar das 9h da manhã até a madrugada é legal para relembrar, mas desgastava demais. Foi na realidade a primeira vez em que me finalizaram no pé, aquilo ali a gente nunca tinha visto, o Comprido que lançou. Nós dois puxamos para a guarda, ele veio para cima. Foi a deixa para eu segurar a calça dele por baixo e relaxar: deitei a cabeça e dei duas respiradas. Ele viu meu pé e arrochou, e meu pé esticou até onde ele queria. Aí para voltar à posição normal é foda... Quando olhei, como não conhecia a posição, não sabia o que ele queria, só sabia que ele não ia passar a guarda. Mas ele já tinha arrancado com meu pé, tentei sair, empurrei, empurrei, ele soltou. Aí ele pegou de novo com mais força ainda, deu uma estalada e acabei batendo, mesmo porque já não ia dar para continuar. Tinha machucado.

De 1996 a 2001, ano em que você parou, quais seus oponentes mais marcantes?

Lutei com muita gente, do Wallid ao Minotauro, mas no fim das contas a luta contra o Minotauro acaba marcada pelo nome que ele fez depois no vale-tudo. De todos os Mundiais, sem dúvida, um dos mais maneiros foi o primeiro [1996], quando venci o Wallid, membro de uma geração do Carlson que ganhava tudo. Nós da Gracie Barra estávamos apenas começando, éramos poucos e bem mais leves do que todo aquele time do Carlson. Eu tinha 78kg e entrei no meio-pesado após fazer um trabalho de ganho de peso, enquanto Wallid tinha uns 86kg. Eu vinha do peso médio. Outras vitórias que destaco foram contra o Zé Mario [1998] e Amaury Bitetti [1999].

O Amaury, outro grande ícone, que dominou peso e absoluto durante dez anos, era o cara no Jiu-Jitsu, um atleta que ninguém questionava e que nunca ninguém tinha raspado. Fui lutar com ele em 99 e acho que o único que acreditava mesmo em mim era o Soca. Acabei raspando duas vezes, raspei, ele bateu no chão, puxei para a guarda e raspei de novo. Zé Mario era outro que ninguém enxergava saindo derrotado, voltou ainda mais respeitado de Abu Dhabi e tinha uma grande força física. Ele amassava todo mundo, e fizemos duas lutas bastante movimentadas, a gente saía, voltava. No fim das contas ficou para a posteridade que cada um levou uma, tudo bem. Mas tenho para mim que foram duas lutas com o Zé Mario que venci no mesmo dia.

Qual é o seu ponto de vista sobre essa derrota para o Sperry?

No Mundial de 98 fiz minha primeira luta com ele, no peso, e voltamos a lutar, no mesmo dia, na última do absoluto. Isso era raro: geralmente quem ganhava o peso não aparecia no absoluto. Nessa final ele criou uma polêmica sobre ter pegado meu pescoço [num relógio], mas aquilo ali não existiu, nós tínhamos saído e o juiz, parado. A diferença para ele no placar foi por uma vantagem, acho. No início quase passei, ele virou, fui para as costas e ele segurou minha calça, até que rasgou. A luta voltou em pé, mas eu deveria ter ganhado uma vantagem. Na pressão de fora, ele é que acabaria ganhando uma vantagem posterior que não existiu. Mas o absoluto em 98 valeu também por outras coisas: foi minha única chance de lutar com o Murilo Bustamante, outro grande nome com quem nunca esbarrei depois. Lembro que raspei três vezes.

O que o fez parar de competir e seguir a carreira de engenheiro de segurança industrial e meio-ambiente?

Na vida a gente tem sempre duas vontades. Se me chamassem para o Abu Dhabi eu iria, estou até agitando uma luta de kimono no Japão, mas perdi a vontade de lutar campeonatos. Sempre lutei pelo desafio pessoal, eu queria estar ali. Quando não há essa vontade, é preciso de algo a mais que o estimule, dinheiro, sei lá. Não tenho vontade de ir passear no Japão. Depois de seis medalhas nos Mundiais [duas de prata] achei que, mesmo no auge, era hora de parar e construir outra coisa na vida. Quando lutei com o Margarida em 2000 eu não estava tão a fim de lutar, mas o Carlinhos e o pessoal na academia pediram. Até que cheguei à conclusão de que não dava para ficar correndo atrás de cada garoto duro que aparecesse! Parar é o momento mais difícil do atleta, mas o cara que pára no auge não passa o bastão para ninguém. Fica sempre melhor na História, veja o Pelé. Mas mantenho minha atividade esportiva, dou aula.

O que mudou nos campeonatos do seu tempo para hoje?

Foi uma época em que a gente custeava toda a nossa preparação, e o retorno era uma medalha. Ainda assim, o pessoal treinava muito. Era preciso gás, explosão, alongamento, técnica, uma série de qualidades que exigia treino duas vezes ao dia, malhação, ioga, subidas à Pedra da Gávea, natação, boxe... O Jiu-Jitsu exigia uma dedicação de profissional e dava um retorno de amador. Os coroas não acreditavam quando eu falava que não ganhava nada como lutador.

Entrevista: Comprido

Comprido: "Nunca fui fenômeno, mas venci caras fenomenais"

Carrasco de lutadores famosos como Zé Mario, Roleta, Nino e Margarida, bicampeão relembra vitórias, admite má fase nos últimos anos e ainda sonha em ser o primeiro tricampeão absoluto da História

ALMA_2000_cumpridoXnino.jpg

Comprido bombardeia a guarda de Nino. Para o ex-atleta da Alliance, hoje na Brasa, essa foi a melhor luta de sua carreira.

Qual foi a sensação de conquistar seu primeiro título absoluto logo no primeiro ano de faixa-preta, em 99?

Nesse ano perdi no peso na segunda luta para o Paulão e fiquei o resto da noite perturbando os caras pedindo para lutar o absoluto. Na época a Alliance tinha várias possibilidades - o Fabio Gurgel, o Traven, Léo Leite, Cláudio Moreno -, e diante do impasse eu ficava lá: "Se ninguém quiser lutar eu luto". Eu ainda tinha uma boa relação com o Fábio e ele falou que me dava a vaga. Minha derrota para o Paulão tinha sido numa luta nula: puxei para a guarda, ele chegou à meia e ficou sete minutos parado, administrando.

Era meu primeiro ano de preta, estava cheio de gás e de vontade, e como treinara o ano inteiro para aquele campeonato fiquei azucrinando pela vaga. Acabamos entrando Cláudio Moreno e eu. E parece que da derrota voltei bem mais esperto. Lutei com Renato Ferro, que já tinha me vencido uma vez, peguei o Zé Mario, cara respeitadíssimo e que só havia perdido três lutas na vida: para o Roleta no ano anterior, uma no vale-tudo, e para o Léo Leite, nesse mesmo dia, na final do peso. Aí fez diferença o apoio da equipe: comecei a luta sabendo que ele estava mais desgastado e senti que controlei o tempo inteiro, apesar dos sete quilos de diferença.

Foi uma luta mais em pé, ele partia para dentro, teve uma hora em que ele deu um grito que fiquei até com medo, pensei em correr, mas desisti [risos]. Continuei atacando, fiz uma vantagem no desequilíbrio ou chegando do lado, não lembro, e ele me puxou para a guarda tentando um jeito de ganhar. O que me marcou foi a superação do Zé Mario, que mostrou vontade a luta inteira. Mas com certeza seu desgaste na final com o Léo Leite me ajudou.

E o Roleta do outro lado, quase levando a Gracie Barra ao título...

Isso, ele fez uma luta duríssima com o Minotauro, em que o Roleta esteve atrás no placar, quase ganhou... Eu estava concentradíssimo e comentei com o Fernando Gurgel que ia no pé do Roleta, e ele me pediu para ir só no fim, para não arriscar uma posição vantajosa. Eu já tinha usado a americana de pé na faixa-marrom, no Carlos Chermont, o Chuchu, mas na marrom passa despercebido. Eu sabia que o Roleta ia me puxar para a guarda, então já decidi começar ganhando a luta, ia puxar junto e ir para cima fazer a vantagem, só que a perna dele caiu de um jeito que senti que ele não estava nem pensando no pé. Quando olhei pro pé dele, dei um sorriso, quem revê na TV percebe. Pensei: "Não acredito". Na hora percebi que o pé dele flexionou, e depois dobrou muito mais, foi quando ele desistiu. No instante em que arrochei já sabia que aquilo estava me dando o título por equipes, foi com certeza o campeonato mais emocionante que tive na vida, saí correndo para festejar, o pessoal me jogou para o alto... É uma sensação que vou perseguir novamente, nesses últimos três anos não treinei o suficiente e por isso não entrei no absoluto, mas aviso que vou tentar ser o primeiro a tri da História. Perdi do Roger, do Xande, mas quero ter esse título de volta. Estou com 28 anos e ainda tenho muita luta dura pra fazer.

Você se motivou após derrotas no peso. Como você viu suas derrotas para atletas do Carlson nessa época do bicampeonato em 99/2000?

Naquela época lutava com muito mais freqüência, então cruzei com o Paulão três vezes, era muito lutador duro e a gente se encontrava mais. Foi o caso em 99, perdi para ele e isso me deu motivação. Com o Arona, em 2000, foi o inverso: lutei com ele a semifinal do peso no dia seguinte ao bicampeonato, em que finalizara o Nino e vencera o Margarida. Cheguei com moral portanto, mas o Arona foi estratégico, conseguiu fazer dois pontos, me botando para baixo de uma forma que eu não esperava: me puxou para guarda, eu toureei a perna dele, cheguei do lado e ele virou de quatro, agarrou minha perna e me botou pra baixo. Dois pontos, não teve mais jeito. Foi ruim perder, ninguém entra numa luta para isso, mas perdi para caras muito duros e altamente estratégicos.

Em 2000 acabou sendo sua consagração de fato. O que você lembra desse Mundial, marcado por suas vitórias contra Nino Schembri e Margarida?

Houve um momento curioso, triste, na verdade, que foi a morte daquele garotão durante o Mundial, o Jean. Eu tinha feito algumas lutas, estava na área de aquecimento e na hora em que o cara caiu achei, de longe, que era o Erik Wanderley lá de BH, com quem eu tinha uma afinidade. Corri para lá nervoso, vi que não era ele e ajudei a levar a maca até o lado de fora do Tijuca. O pessoal tentava uma inútil massagem cardíaca e o clima era de tensão total; lembro que a gente pediu e o cara do Sportv não desligava a câmera, e discutimos. Pois, na hora em que botei o pé de volta no ginásio, só ouvi aquelas palavras: "Ringue 1, Antonio Schembri e Rodrigo Medeiros!". Entrei no susto, mas foi uma estratégia boa da CBJJ, não sei se do Siriema ou do André: botar uma luta que fosse prender a atenção do público e tirar aquela imagem trágica da cabeça de todos. E, mesmo mais desconcentrado, essa foi a melhor luta que já fiz na minha vida.

A gente lutava e eu percebia as alterações na torcida, uma hora ele estava nas minhas costas - "Uh, vai pegar" -, logo depois eu dava uma queda e ia no braço dele, ele invertia e ia no meu, eu devolvia com uma kimura... E acabou numa finalização. É legal lutar contra um ídolo, e é também graças ao Nino que essa foi sem dúvida a melhor luta da minha carreira. Acho que sempre fui um bom lutador, mas nunca um lutador fenomenal. Tive resultados expressivos contra lutadores fenomenais, mas nunca fui um Leozinho, um Nino, um Ricardinho Vieira. Fazia lutas bonitas, mas não era um fenômeno. Então nesse ano acabei vencendo nas quartas-de-final o Nino, que era um deus, e na final o Margarida, outra luta duríssima, apesar de eu já conhecer seu jogo.

Dizem que você tem a formula para vencer o Margarida, como é isso?

O lance com o Margarida é entender que ele tem um gás que aumenta progressivamente com a luta, então tem de se estar afiadíssimo mentalmente, tecnicamente e estrategicamente e com um tempo da posição perfeito. E eu tinha um jeitinho ali que eu sabia que dava para passar a guarda, o lado dele que era melhor para eu ir... Em quatro lutas, venci o Margarida três vezes e ele me venceu uma. Mas em 2000 o Margarida fez um lutaço contra o Cachorrinho na semifinal, enquanto eu cheguei à final mais descansado por ter feito uma luta "de apresentação" com o Esfiha - só lutamos porque tinha TV. Mas antes da final com o Margarida realmente eu tinha lutado com ele em São Paulo, e foi uma luta teoricamente fácil, não no placar, mas que venci com relativa tranqüilidade, porque meu jogo encaixava bem contra ele. Nessa segunda luta contra ele, estava confiante de que defenderia meu título. Então consegui controlar a luta, eu chegava bem perto da passagem, ele repunha, e foi uma luta marcante, do título, mas que dentro de mim hoje fica apagada pela luta anterior contra o Nino Schembri.

No fim das contas, a Brasa hoje supostamente teria quatro títulos absolutos, com você e o Jacaré, contra três do pessoal da Carlson e dois da Gracie Barra. Vocês vêem assim?

A divisão da equipe entre Alliance e Brasa foi muito difícil para mim, que tinha muitos amigos com quem hoje nem falo mais, graças a Deus até, porque não são pessoas que merecem a dedicação que eu e outros demos à academia. Isso atrapalhou o prosseguimento da minha carreira. Agora, o Jacaré é um fenômeno, tem um ritmo de lutas excepcional e é um grande amigo, mas já chegou ao time praticamente pronto, ele é fruto do trabalho do Henrique Machado em Manaus, além do esforço, claro, do próprio Jacaré, lutador incansável que faz uma preparação brutal. Claro que, como o Henrique não vem ao Rio para o Mundial, há por outro lado um suporte que nós damos para ele, principalmente na parte de estratégia, em que o Leozinho é especialista. Neste último Mundial ele começou mal, e as conversas com a equipe o ajudaram a vencer. Enfim, ele é um cara que a gente adora, mas os méritos são dele.

E o que houve com entre o Jacaré e a Brasa este ano, vocês tiveram algum estremecimento?

O que ocorre é que o Jacaré entrou na equipe graças ao Tererê, e ele não gostou da saída do Tererê e do Telles. Como continuavam com o laço forte, o Jacaré ficava talvez com uma pequena vontade de representar a TT. Então ele se inscreveu na última Copa do Mundo pela equipe ASLE, e não pela Brasa. Se ele não estava com a Brasa, estava contra a gente, no nosso modo de ver. Acho aí que ele sentiu um pouco a falta do suporte estratégico durante as lutas, afinal não tínhamos nem como dar apoio, pois ele lutou contra o Demian Maia, da nossa equipe, que o venceu. Mas no fundo acho que foi um mal-entendido tudo isso, culpa da correria na hora de inscrição. Então no X Mundial ele já estava vestindo nossas cores de novo.

Para fechar, qual foi sua maior alegria e a pior derrota?

As maiores alegrias foram o campeonato absoluto de 99 e a luta com o Nino, em 2000. As piores derrotas foram contra o Gabriel Napão no absoluto do Mundial 2002, em que não me encontrei hora nenhuma e tomei um pau violento, e contra o Cacareco no ADCC 2003. Esta foi a que me deixou mais arrasado, me senti o maior trouxa do mundo. Bati em 20 segundos, foi tão horrível que nego achou que eu tinha entregado pra ele... Mas quem sabe um dia a gente não luta de novo?

Fontes:

http://www.graciemag.com/news/168/ARTICLE/...2007-09-18.html

http://www.graciemag.com/news/168/ARTICLE/...2007-09-18.html

http://www.graciemag.com/news/168/ARTICLE/...2007-09-18.html

http://www.graciemag.com/news/168/ARTICLE/...2007-09-18.html

http://www.graciemag.com/news/168/ARTICLE/...2007-09-18.html

Editado por pmbok

Compartilhar este post


Link para o post
Compartilhar em outros sites

Almanaque dos Mundiais - Parte 3 (2000-01-02-03)

2001

Impacto duplo (ou triplo)

Alma_2001_01.jpg

Margarida vence Saulo em duas finais e é o grande nome; de quebra, ainda destrona Comprido do posto absoluto

Alma_2001_03.jpg

Dois ouros, duas rodas: premiação e comemoração em grande estilo

Quando Fernando Margarida monta na Honda Biz com a Ninja do Funk na garupa, e vira o acelerador ao máximo, arrancando para iniciar uma espécie de volta olímpica na área de lutas do 6º Campeonato Mundial de Jiu-Jitsu, seu rosto estampa felicidade quase infantil. O trajeto cambaleante, quase bêbado, é engraçado. Uma mão guia, a outra acena. Aplausos então irrompem e saúdam o maior destaque da competição, que abocanhou de uma só vez as duas mais disputadas categorias em jogo, o meio-pesado e o absoluto da faixa-preta. Estas foram suas lutas principais, nos dias 28 e 29 de julho de 2001:

Marga x Rodrigo Comprido,semifinal do absoluto

Contexto – como quem acompanha o Almanaque deve lembrar, terminamos a parte dois com Comprido como o grande destaque do Jiu-Jitsu de competição, bicampeão absoluto 1999-2000. Jamais havia perdido para Margarida.

Ação – E esta luta foi a melhor do campeonato de 2001. Não é um combate tático. Os dois se engalfinham numa troca frenética de posições desde o início. Marga veio bem melhor nas quedas este ano, e com um contragolpe em pé, cai quase montado. Os dois estão quase fora do ringue, e enquanto Comprido pára (ele alega que achou que o juiz ia parar a luta e levar para o meio), o paulista mantém o ritmo e monta, abrindo 7 a 0. Inicia-se então um rali, com Comprido tentando correr atrás da larga vantagem. Mas o adversário acompanha, e depois de os dois trocarem quedas e raspagens, convincentemente o lugar na decisão é de Margarida.

Alma_2001_02.jpg

Margarida queda Comprido na semifinal do absoluto e se livra do estigma de parar sempre diante do bicampeão 1999-2000.

Marga x Saulo Ribeiro, disputa do título meio-pesado

Contexto – A decisão do absoluto é no domingo, pela primeira vez desde que o absoluto passou para sábado (formato atual). E acontece após as demais disputas das categorias da faixa-preta. Assim mesmo, os dois atletas lutam o meio-pesado, e fazem três lutas cada até chegarem também a esta decisão. Apesar do título mais importante ter fechado a competição, a luta mais marcante foi a primeira com Saulo, a que abriu as finais.

Ação – Ainda confiante, o pupilo de Royler abre o placar com uma queda, e quase ajusta uma passagem de guarda. Marga repõe e, quando a luta volta em pé, já aparenta superioridade. Desfaz as pegadas do oponente e encaixa uma queda perfeita. Poucos minutos se passaram, mas a segurança de Saulo se esvai, e ele pára completamente. O paulista esbanja ritmo. Cai por cima, passa a guarda e, mal encaixa o estrangulamento com o joelho na barriga, o rival bate. A repetição da vitória (só que por dois a zero) cem minutos depois, na final do aberto, não ofuscou esta contundente conquista do meio-pesado, na qual a superioridade foi absoluta.

Alma_2001_04.jpg

Vítor Shaolin sela sua última participação em Mundiais bombardeando a guarda e roubando (por um ano) o título dos médios de Fernando Tererê. "Ele fez um jogo pra me ganhar, abriu 2 a 0 mas virei nas vantagens", lembra Shaolin. "Foi meu Mundial mais marcante, lembro que por estar no peso pude comer no McDonald's na véspera!" A fera da Nova União ainda faturou 200 dólares ao vender seu kimono para um gringo no Tijuca.

Alma_2001_05.jpg

Fabio Gurgel também se despede da maior competição do Jiu-Jitsu nesta luta contra o paulista Fábio Leopoldo (por baixo), semifinal do peso pesado, que seria fechado com Comprido.

Alma_2001_07.jpg

Ricardo Vieira tira de Róbson Moura o hexacampeonato mundial, e comemora efusivamente. Uma luta depois, ele se sagraria campeão do pluma faixa-preta.

Alma_2001_06.jpg

O faixa-preta goiano Fernando Boi passa a guarda de Daniel Simões e fatura o super-pesado.

Entrevista: Saulo Ribeiro

Alma_2001_08.jpg

SAULO RIBEIRO tenta escapar de um bote na pernas dado por Margarida, na final do absoluto em 2001.

Saulo: "Manter a dedicação nos treinos quando se é o campeão é duríssimo"

Saulo Ribeiro foi o dono do Mundial de 1998, mas em 2001 o maior torneio da CBJJ teve outro senhorio... Do que você mais se recorda quando se fala daquele Mundial de 2001, em que você saiu derrotado pelo destaque Fernando Margarida duas vezes, no peso e absoluto?

Era realmente o campeonato dele! O Margarida ganhou com méritos e mereceu estar no lugar mais alto... E, que fique registrado, nunca tive nenhum problema pessoal com o Marga, pelo contrário. Gosto bastante dele, muito embora as pessoas tenham tentado inflamar a gente um contra o outro. Mas, seja como for, depois daquele Mundial restou pra mim um grande aprendizado e várias reformulações, tanto na minha vida como no meu treino.

Hoje percebo como é difícil manter o entusiasmo e a mesma dedicação quando você é campeão por muito tempo! É nessas horas que, conseqüentemente, sempre vai aparecer alguém pra te dar esse "toque". Tomando como exemplo o vale-tudo, vejam o caso do Wanderlei. Muitas batalhas, uma série de vitórias seguidas. O corpo dele sente isso, e manter a mesma consistência de treino é duríssimo. E é por isso que o respeito muito.

Você se aposentou após a derrota para Roger Gracie nas quartas-de-final do absoluto, em 2005. Nesses 10 anos, que grandes momentos lembra de ter vivido no Mundial, do início de tudo até a hora de pendurar a faixa?

Rapaz, não foram poucos. E posso garantir que estou com os aplausos até hoje na cabeça... Algo não apenas incrível: é simplesmente imortal!

Mas, se é para destacar, vamos lá: vencer o Fabio [Gurgel] e o Murilo no mesmo dia, em 1998; ganhar do Nino quando todo mundo tinha pânico de lutar com ele, em 1997; em 2000, vencer o Mundial depois do nocaute no Japão [sofrido por ele contra Yuki Kondo, numa grande zebra à época]. E, para encerrar, mas não menos emocionante, assistir ao Xande ser campeão pela primeira vez na faixa-preta, em 2004.

Qual foi a sua luta mais marcante nesses anos todos? Quem teria sido o oponente mais difícil, e que cena mais o marcou como espectador dos Mundiais?

A luta que mais me marcou foi minha última, antes de me aposentar. Perdi para o Roger, que acho que foi meu pior oponente. Talvez se eu tivesse jogado na estratégia, pudesse vencer. Mas fui atrás da verdade! Sobre a cena mais marcante, foi sem dúvida a valentia do Jaca em não se entregar após ter o braço quebrado contra o Roger, na final do absoluto em 2004. Ali posso dizer que virei fã do negão!

E seu triunfo em 1998? Que nível técnico, tático e mental você lembra de ter atingido ali?

Bem, foi uma série de fatores, na verdade. Eu estava feliz com o namoro, treinei muito Judô, ganhava bem, passei meses com o Rickson... Enfim, eu estava de bem com a vida! Só os adversários portanto é que pagaram caro essa conta toda (risos).

Roger e Jacaré têm sido os grandes obstáculos do seu irmão Xande Ribeiro nos dois últimos anos de Mundial. O que vocês dois conversam para tentar pará-los ano que vem?

Bem, acho que agora conheço mais o jogo do Roger do que ele mesmo, e só por acidente o Roger ganha do Xande de novo! Está em jogo o trono de número 1 do Jiu-Jitsu e ano que vem é do meu brother, garanto! Em relação ao Jaca, a luta será sempre dura, mas o jogo não bate. E o Xande sempre caça o Jacaré, coisa que ele não está muito acostumado.

E seu tri no ADCC, Saulo? Dá para comparar alguma das campanhas com algum dos títulos no pano?

Olha, nenhuma participação em ADCCs se compara com o Mundial, independentemente da grana. Eu certamente trocaria todos os petrodólares por mais títulos mundiais! Claro que o ADCC foi um marco na minha carreira, porque me deu mais projeção internacional e me fez duelar com os gringos, coisa que no Mundial não acontecia, além de ter despertado meu interesse para o wrestling. Mas o glamour do Mundial não tem comparação: treino, nervosismo, ansiedade, expectativa, guerra, torcida, dor... Decididamente vou sentir falta. Porra, isso já vai me fazer chorar de novo, ser canceriano é um problema.

Bom, se for por falta de incentivo, seu ex-colega hexacampeão Kelly Slater agora passou você em títulos, após o Mundial de surfe conquistado em Floripa... Já que você continua em plena atividade nos EUA, não há chance de adiar a aposentadoria por mais um aninho não?

Vontade sempre dá, porque tenho alma de lutador e além disso treino todo dia com o Xande, então estou sempre em forma! Mas para eu retornar terá de haver um fato muito especial para que isso ocorra.... Mas ser espectador é foda, mesmo, quem sabe???

Enquanto isso, sigo aqui no ritmo de seminários. Na França, foram mais de 300 pessoas em dois dias, um feito só batido pelo Rickson! E, nesses casos, ficar em segundo é um luxo!

Biênio Pé de pano

Alma_2002_3_01.jpg

ANO MORNO. A guarda de Pé de Pano desequilibra Saulo. Numa luta monótona, contrária ao seu estilo, mas que acompanhou o tom de suas declarações à época, veio a conquista do primeiro absoluto mundial da fera, na graduação máxima.

O mais habilidoso pesadíssimo do Jiu-Jitsu grava seu nome na história dos Mundiais

Em 2002, Pé de Pano venceu Xande e Saulo. No ano seguinte, Werdum e Roger. O faixa-preta criado na favela Mata Machado conseguiu, no seu reinado, destacar-se mais pelas frases de efeito do que pelos inúmeros golpes que impôs aos adversários. Vejamos um pouco dos dois:

Alma_2002_3_02.jpg

Frédson Paixão faz guarda contra o veterano Ricardo De La Riva, no peso pena.

Em 27 e 28 de julho de 2002, Pé derrotou a dupla Ribeiro. Ambos por pontos. O momento de maior perigo sobrou para o irmão mais novo, que conseguiu escapar de um relógio durante a semifinal do absoluto e perdeu por uma raspagem. Mesmo movimento que garantiu a vitória de Pé na decisão, sobre Saulo. Era uma fase branda de Pé, que elogiou os adversários e ficou feliz por ter dado a volta por cima de um 2001 em que, machucado, abandonou a competição na semifinal, antes de enfrentar o próprio Saulo.

Alma_2002_3_02b.jpg

o eventual campeão do leve, Márcio Feitosa, em situação inversa (por cima) com Crézio Souza. Os jovens acabaram levando a melhor em 2002.

Já em 26 de julho de 2003, depois de raspar, passar a guarda e colocar o joelho na barriga de Fabricio Werdum, ainda guardou para o dia seguinte uma passagem de guarda em cima de Roger Gracie, num confronto marcado pelo ineditismo. Pela primeira vez em muitos anos, dois companheiros de treinos não "fecharam" o peso, e lutaram para valer uma final. Seria um marco para o Jiu-Jitsu, e os atletas levaram tão a sério o combate que até tiraram o nome das categorias, guardando forças no domingo para a decisão.

Após vencer por 3 a 0, Pé liberou a língua: "Eu tava na pior fase da minha vida. Apenas 30% da minha forma. Mas 30% meus são suficientes para o Jiu-Jitsu de hoje". E enquanto disparava esses mísseis, olhava Ronaldo Jacaré (após vencer o absoluto da marrom) receber a faixa-preta durante a premiação. Não resistiu e entrou no assunto: "Olha lá, agora tem ele também. Já ganhei tudo, e podia me escorar nisso, mas sabe por que não? Porque fico muito puto em ver alguém no primeiro lugar do pódio." Pior do que prever, ele estava apontando ali para o seu sucessor, como veremos na Parte 4, na próxima edição.

Alma_2002_3_03.jpg

Parte um. Roger e Jacaré se enfrentam na final absoluto da faixa-marrom, em 2002. Neste primeiro encontro, melhor para o Gracie que, de kimono azul, venceu por pontos. Os dois defendiam a mesma escuderia mas se pegaram na final. Roger voltaria a reivindicar essa prática no ano seguinte.

Alma_2002_3_04.jpg

Ano polêmico. Pé de Pano passa a guarda de Roger Gracie e fatura o bi, segundo ele, rendendo apenas 30% do que poderia. A disputa entre dois companheiros de equipe só rivalizou em controvérsia com as declarações bombásticas do campeão.

Alma_2002_3_05.jpg

Daniel Moraes chega à preta em 2003 jogando por cima contra Márcio Feitosa e tirando, na luta final, o ouro peso leve do campeão anterior.

Alma_2002_3_06.jpg

Após a derrota para Roger no ano anterior, Jacaré volta de faixa-marrom para correr atrás do absoluto que lhe faltava. Aqui, arrocha o braço de seu rival Bráulio Estima a caminho do pódio.

Alma_2002_3_07.jpg

Fabrício Werdum tenta uma pegada de costas. Em seu primeiro ano entre os mais graduados, o hoje treinador de Jiu-Jitsu de Mirko Cro Cop perdeu para Pé de Pano no absoluto mas garantiu o título do pesadíssimo em 2003.

Alma_2002_3_08.jpg

Tererê clama novamente o título dos médios em 2003 vencendo na final ninguém menos que Marcelo Garcia. Aqui o campeão tenta passar a guarda, mas o fim do combate veio por finalização, num triângulo bem encaixado.

Alma_2002_3_09.jpg

O Gaúcho Mário Reis destrona Frédson Paixão com esse cinematográfico triângulo. Ele ainda venceria Alexandre Soca nesse dia e conquistaria o pena de 2003.

Entrevista: Pé de Pano

Pé de Pano: "Sou fã do Jacaré, ele tem coração de campeão"

Alma_2002_3_10.jpg

Num duelo revisto duplamente em 2005 (não nos Mundiais – no Pan e no Yamasaki Tournament), Pé de Pano busca as costas de Xande Ribeiro na semifinal de seu primeiro título absoluto, em 2002.

Ao comparar os dois anos em que você foi campeão, notamos uma diferença marcante. Não dentro da área de lutas, onde a superioridade foi a mesma. Mas na postura. Enquanto em 2002 você dá declarações amenas, no ano seguinte diz que 30% do seu Jiu-Jitsu eram suficientes para vencer o campeonato. Por que a diferença?

Li na entrevista do Roleta que ele considera o Jiu-Jitsu um esporte amador mas que exige dedicação de profissional. Concordo plenamente. Como me dediquei muito para chegar lá, venci os melhores e mesmo assim era questionado, não soube administrar isso. Me desiludi e falei o que não devia, porque eu era imaturo.

Antes de você, Amaury foi bi, Comprido também, Zé Mario e Margarida venceram uma vez. Quando chegou lá, como se viu diante desta galeria?

É o que falei, o Amaury e o Comprido fizeram muito, e ainda assim vejo pessoas criticando o Jiu-Jitsu dos caras, dizendo que eles não eram essas coisas. Tem gente que fez muito menos e é mais reconhecido. O Margarida teve mídia, o Jacaré tem mídia, e eu também, não posso reclamar, mas o problema é a falta de memória. O Zé Mario fez uma final antológica com o Roleta, o Margarida teve um ano sensacional, e isso tudo cai num esquecimento injusto. O Comprido, por exemplo, é professor da Brasa, lidera um grupo de campeões, devia ser mais prestigiado. Mas o público é assim, se o cara ganha hoje, é o cara, mas depois, é um merda. Hoje recebo de crítica o triplo dos elogios que me fizeram.

Tem idéia do por quê?

O Jiu-Jitsu tinha tudo para ser grande, mas o bairrismo atrapalha, o público são os alunos. Este é o motivo da torcida contra. O cara pode até gostar de algum atleta, mas não vai torcer para ele se não for da própria academia. Isso inclusive deixa o mercado restrito, atrapalha tudo. Só se vende camisa da Gracie Barra para quem treina na Gracie Barra, da Brasa para quem treina na Brasa...

Em 2001, contundido, você acabou então não enfrentando o Saulo na semi, o que abriu caminho para ele lutar contra o Margarida. Em 2002, a final do absoluto entre vocês foi morna. Teria sido uma retribuição?

Não, a luta foi séria, mas realmente ali ninguém arriscou. Meu jogo não é assim, mas não queria perder. Era um título inédito, e eu ainda não tinha chegado lá.

No ano de 2003, o que marcou foi você e o Roger terem lutado na final. Até então, tudo o que os atletas da mesma academia queriam era chegar na final para "fechar", e os dois eram considerados campeões. Vocês foram os primeiros a romper com isso em muitos anos...

Vendo hoje, foi um marco. Mas a idéia inicial não era essa, queríamos fechar. Só que ele sofreu pressão da família, é um cara que sempre tem muita cobrança pelo sobrenome, e, além disso, tava bem, em forma, e eu mal. Ele podia me ganhar, então preferiu lutar. Mas isso não mudou nada nossa amizade, e hoje vemos que foi bom para esporte, acabou esse negócio de não ter mais luta. O único problema desse episódio é que o Café foi prejudicado, porque ele tinha vencido o Marcelinho e abriu passagem para o Roger. Como lutamos a final, não aparentou que ele também chegou, e a participação dele foi ofuscada.

E logo após esse título, você viu o Jacaré ser graduado no pódio e deu declarações que acabaram criando uma rivalidade entre vocês. Disse que era por isso que você ia continuar lutando, para não deixar outro subir no seu lugar. Mas acabou que você não disputou o Mundial e a luta entre vocês não aconteceu...

É, no ano seguinte não lutei porque ia estrear no vale-tudo [o evento acabou cancelado] dias depois, e voltei só no Pan desse ano, mas me machuquei no ADCC e não pude lutar o Mundial. Tudo bem, eu falei aquilo tudo mas não conhecia o Jacaré direito, hoje o vejo como uma pessoa sensacional, que venceu um monte de adversidades e consegue dar brilho a todas as competições que participa. Ele tem algo que vale mais que qualquer técnica, o coração de campeão. Veja só, este ano todo mundo falava que ele tava mal, que o Roger ia atropelar, e ele não se entregou. Sou fã dele.

Nosso foco é o Mundial, mas este ano você foi finalizado pelo Margarida num evento menor, nos EUA. Como vê essa derrota?

Olha, não tem desculpa, o Margarida é um cara perigoso, e qualquer um pode bater para ele a qualquer momento. Mas, naquele dia, eu fiz uma luta pedreira com o Xande minutos antes, e todos sabemos que o Xande é um dos caras mais difíceis de se vencer no Jiu-Jitsu de hoje. Além disso, uma semana antes eu tinha disputado o Pan, numa maratona de mais de 12 horas. Então tive várias dificuldades, e ele foi melhor. Aconteceu.

O Comprido disse que ainda tem esperança de voltar ao topo do Mundial e se tornar o primeiro tricampeão absoluto. E você?

É difícil falar. Tenho vontade e condições, mas estou concentrado no vale-tudo. Eu sempre fui o primeiro a dizer que isso não tinha nada a ver, que dava para lutar os dois, mas hoje faço uma autocrítica, vejo a diferença.

Mas o Fedor, que é o número um do Pride, acaba de ser campeão mundial de sambô. Lutou lá na República Tcheca e estava todo feliz com uma medalhinha do seu esporte. Não acha que o lutador de Jiu-Jitsu carrega uma responsabilidade muito grande de ter de entrar para vencer?

Aí é que eu falo. É muito mais difícil ser campeão de Jiu-Jitsu do que de vale-tudo, lutar com adversários desconhecidos, às vezes seis num mesmo dia. Apesar disso, o reconhecimento é muito menor. Então, é mais fácil para quem ainda não chegou lá, quem ainda tem o sonho. Eu já pisei lá, sei que não mudou muito, então tenho outras prioridades.

Fontes:

http://www.graciemag.com/news/168/ARTICLE/...2007-09-18.html

http://www.graciemag.com/news/168/ARTICLE/...2007-09-18.html

http://www.graciemag.com/news/168/ARTICLE/...2007-09-18.html

http://www.graciemag.com/news/168/ARTICLE/...2007-09-18.html

Editado por pmbok

Compartilhar este post


Link para o post
Compartilhar em outros sites

Almanaque dos Mundiais - Parte 4

O clássico de hoje: Jacaré e Roger arrancam na reta final e saem da primeira década de mundiais como os grandes nomes da atualidade e também protagonistas da maior rivalidade da história da competição

Almanaque__04__01.jpg

Cenas mais marcantes dos Mundiais de 2004 (realizado de 22 a 25 de julho) e de 2005 (dos dias 28/7 a 31/7): ao lado, a chave de braço que soltou polêmicas e cotovelo no primeiro ano.

Se não tivesse ocorrido a decisão do absoluto nos Mundiais dos últimos dois anos, Roger Gracie estaria léguas à frente de quaisquer oponentes como destaque da competição. Finalizou Fernando Margarida, Rodrigo Comprido, Saulo Ribeiro, Fernando Tererê e mais oito adversários. Passou também com autoridade (leia-se goleada de pontos) por Marcelo Garcia e Xande Ribeiro. Não deixou, portanto, tantos nomes de igual calibre para alguém se equiparar a si, nesse sentido. Acontece que Ronaldo Jacaré mordeu seu grande naco da História justamente por derrotar, por duas vezes, alguém capaz de tal feito.

Almanaque__04__02.jpg

Cenas mais marcantes do Mundial 2005: o desequilíbrio que deu o bi absoluto a Jacaré um julho depois.

Foram finais do aberto polêmicas e emocionantes como jamais se viram. E olha que, como este almanaque bem recorda, vivemos bastante emoção e controvérsia nesses dez anos. Mas não na quantidade da grande decisão de 2004, principalmente. Com quatro pontos na frente do placar, de uma pegada de costas, Jacaré seguia incólume na disputa, rumo ao grande título do Jiu-Jitsu. Mas, a pouco menos de dois minutos do final previsto, Roger usa uma chave para deslocar o braço esquerdo do adversário, que não desiste. O filme está na memória coletiva dos Mundiais, Jacaré com o braço envergado, e depois em pé, mão esquerda segurando na faixa, um saci ao contrário a evitar as investidas de um desesperado Roger. Fim de luta, início de uma grande discussão, se o juiz deveria ter interrompido, ou punido o comportamento final de Ronaldo. Que, a despeito de tudo, era o novo campeão absoluto do Jiu-Jitsu.

Almanaque__04__03.jpg

Roger foi, com autoridade, o nome do superpesado nestes anos. Veja o que ele fez com os dois semifinalistas que cruzaram seu caminho: mais acima, o momento em que Margarida desiste e, na cena de baixo, também nas costas, o estrangulamento que deu cabo de Roberto Tozi.

No ano seguinte, o Gracie fez uma competição ainda mais implacável até a decisão. E, somadas as recentes vitórias diretas no Europeu e no ADCC, seu favoritismo sobre Jacaré era absoluto. Por isso a vitória de Jaca foi ainda mais espetacular. Embora tenha vindo de apenas dois pontos de uma queda discutível. E apesar de a movimentação de ambos no combate ter sido cautelosa, e a luta não ter sido sombra da do ano anterior. Pouco importa. O bicampeonato de Jacaré está anotado, e com ele o feito de ter passado (duplamente) pelo fora-de-série Roger.

Almanaque__04__04.jpg

Embora tenha reinado no absoluto, Jacaré só abocanhou o meio-pesado em 2005 (foto acima), ao vencer o mesmo Bráulio Estima que abusou dos balões e garantiu o meio-pesado em 2004, ano em que a final não foi disputada, pois Jaca já tinha deslocado o braço na decisão do absoluto.

PS.: Dois meses antes do Mundial de 2004, GRACIE Magazine publicou o desfecho de uma reportagem dos melhores do Jiu-Jitsu de todos os tempos. A série foi dividida em décadas e, como a de 2000 ainda não chegara à metade na ocasião, era sabido que o resultado dessa parte não era conclusivo. No entanto, o fato de Jacaré figurar apenas em sexto lugar e Roger nem estar listado entre os dez (ressalve-se que os dois foram apontados pelo júri como as maiores revelações) certamente seria revisto se voltássemos ao pleito. Mas isso é tarefa para 2010. Por enquanto, resta a redenção de registrar os dois atletas como os maiores nomes da atualidade, no desfecho do Almanaque dos Mundiais de Jiu-Jitsu da primeira década da competição.

Almanaque__04__05.jpg

Renovação constante nos médios: enquanto em 2004, Marcelinho Garcia trajou o kimono branco para derrotar Cássio Werneck na final do peso (acima), em 2005, André Galvão arrochou o joelho de Felipe Cranivata na única finalização das decisões da faixa-preta (abaixo).

Almanaque__04__06.jpg

Almanaque__04__07.jpg

Em 2004, Xande Ribeiro jogou por cima, embolando-se nas pernas de Jef-ferson Moura, para, ao mesmo tempo, conseguir seu primeiro título na faixa-preta e destronar o então bicampeão da divisão dos pesados.

Almanaque__04__08.jpg

Com todo o charme das unhas rosas, Kyra foi grande destaque em 2004 no feminino, chegando em primeiro no leve mesmo ainda exibindo a faixa-marrom na cintura (que ela só abandonaria após o Mundial de 2005). No ano seguinte, no entanto, foi a vez de Leka Vieira fazer a festa da categoria, ao derrotar a mesma Kyra na finalíssima (ao lado).

Almanaque__04__09.jpg

Fabrício Werdum contém a ginga de Fernando Tererê para pegar o ouro pesadíssimo, em 2004. Por motivos distintos, os dois não lutaram o Mundial de 2005. Enquanto Werdum se concentrava nos treinamentos para o Pride, Tererê se recuperava de problemas pessoais e foi visto apenas nas arquibancadas.

Almanaque__04__10.jpg

Pelo segundo ano consecutivo, Mário Reis derrotou Frédson Paixão, desta vez (2004) na final do peso pena, em que, usando kimono azul, caiu por cima no momento ao lado, em que concluía uma raspagem. Mas Frédson não se abateu e fez o gaúcho virar de quatro no ano seguinte, recuperando o título que não tinha desde 2002.

Almanaque__04__11.jpg

Fontes:

http://www.graciemag.com/news/168/ARTICLE/...2007-09-19.html

http://www.graciemag.com/news/168/ARTICLE/...2007-09-19.html

FIM.

Editado por pmbok

Compartilhar este post


Link para o post
Compartilhar em outros sites

excelente de parabens mesmo!

obs: ate q o royce n era tao ruim nivel de azul assim, finalizou o remco pardoel q foi finalista do mundial de 96 rapidinho no ufc.

Compartilhar este post


Link para o post
Compartilhar em outros sites
excelente de parabens mesmo!

obs: ate q o royce n era tao ruim nivel de azul assim, finalizou o remco pardoel q foi finalista do mundial de 96 rapidinho no ufc.

Explica aí gardenalmack não entendi o porque da observação!

Compartilhar este post


Link para o post
Compartilhar em outros sites
alguem do forum falo que o royce tinha nivel de faixa azul

Eh isso ai, e n foi soh uma vez nao. O kra q falou isso pela primeira vez aki no pvt eh o Green Lantern, que diz-se campeao mundial em 3 faixas.

Compartilhar este post


Link para o post
Compartilhar em outros sites

MUITO BOM!!!

Quanto a do royce, falaram que se ele disputasse o mundial na azul, ele não sairia campeão. EURIPRAYBOY.

Compartilhar este post


Link para o post
Compartilhar em outros sites

Sensacional mesmo, bem que a moderação poderia colocar como um tópico fixo.

Compartilhar este post


Link para o post
Compartilhar em outros sites

Crie uma conta ou entre para comentar

Você precisar ser um membro para fazer um comentário

Criar uma conta

Crie uma nova conta em nossa comunidade. É fácil!

Crie uma nova conta

Entrar

Já tem uma conta? Faça o login.

Entrar Agora
Entre para seguir isso