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Silêncio em Wembley: o dia em que Anderson Silva venceu um assaltante inglês no MMA

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Silêncio em Wembley: o dia em que Anderson Silva venceu um assaltante inglês no MMA

Antes de brilhar no UFC, brasileiro fez sucesso no Cage Rage e conquistou cinturão no ginásio anexo ao famoso estádio ao derrotar Lee Murray, o mais temido lutador local

Por Gleidson Venga 

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Marcelo Alonso
 

Anderson Silva viveu o auge de sua carreira no UFC, no período em que acumulou recordes e, para muitos, ganhou ares de maior lutador de todos os tempos. Antes disso, porém, o “Spider” brilhou também em outros palcos. Após alguns combates no Brasil, conquistou seu primeiro cinturão internacional em 2001 no Shooto, tradicional evento japonês, mas foram mesmo suas atuações na Inglaterra que serviram de trampolim para chegar ao Ultimate. Por sinal, foi a estreia no evento europeu que lhe rendeu um de seus momentos mais memoráveis - dentro e fora dos ringues.

O Cage Rage 8 estava programado para o dia 11 de setembro de 2004, no Wembley Conference Centre, uma espécie de Maracanãzinho do tradicional Estádio de Wembley, na capital inglesa, que acabou demolido em 2006 para construção da nova arena no local. O adversário escalado para enfrentar o brasileiro era Lee Murray, um temido lutador britânico que já havia nocauteado José “Pelé” Landy, antigo parceiro de treinos de Anderson, e que vinha de uma vitória em sua estreia no UFC meses antes de enfrentar o “Spider”.

- O Anderson tinha saído há pouco tempo da Chute Boxe. Ele tinha feito algumas lutas, teve um contato com alguém pela internet e arrumaram essa luta com o Lee Murray, que a gente conhecia bem pouco. Só sabíamos que ele tinha lutado com o Pelé, mas não sabíamos da fama dele – explicou Damaso Pereira, parceiro de treinos de Anderson naquela época, em entrevista ao Combate.com.

A fama de Lee Murray citada por Damaso não era, digamos, das melhores. Jean Silva, principal lutador brasileiro em atividade na Inglaterra, treinava com Murray e via bem de perto os motivos pelos quais ele era conhecido.

- Quando cheguei na (equipe) London Shootfighters, ele já estava lá e tinha a fama de ser um excelente boxer. Eu entrei lá pra dar uma força no jiu-jítsu a ele. A gente teve uma boa afinidade, comecei a andar com ele, apesar de não entender muita coisa por causa do idioma. Eu me lembro que onde a gente chegava as pessoas tinham muito respeito por ele. Quando ele lutava nos eventos, era casa cheia.

- Para ser bem direto, o cara era um gangster, depois que eu fiquei sabendo. Era um dos gangsters mais sinistros e respeitados de Londres. Todos o conheciam. A gente ia nas boates e, se ele não saísse na porrada, não tinha feito nada. Ele mandava em Londres, era um gangster bem conceituado, digamos assim. Só andava de Ferrari e carros importados. E ninguém sabia de onde vinha o recurso do cara. Depois que eu comecei a andar com ele que descobri. Quando fiquei sabendo de algumas coisas, decidi ir embora para o Brasil.

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Lee Murray se aposentou em 2004, e Anderson foi seu último adversário — Foto: Jules Annan/Getty Images

O destino de Murray você vai saber no final desta matéria, mas antes ele enfrentou Anderson Silva. E os fatos não ficaram marcados apenas pelo que aconteceu na luta. A tradicional pesagem já serviu para esquentar os ânimos, como relembra Damaso.

- Quando a gente chegou lá, estava tudo bem complicado. A galera metendo uma pressão, ninguém sabia quem era o Anderson. No dia da pesagem, eles subiram no palco que tinham montado no hotel, tava cheio de gente, uma grande pressão, todo mundo achando que o Lee Murray ia meter a porrada nele. Os amigos do Lee Murray estavam em volta. Quando eles subiram no palco, o Lee Murray quis fazer uma de bravão e colou testa com testa. O Anderson foi pra cima dele, meteu um empurrão e deu uma confusão.

Comentarista do Canal Combate, o jornalista Marcelo Alonso esteve no evento para cobrir a aguardada estreia de Anderson no Cage Rage. Veterano de várias coberturas, ele se impressionou com o clima que encontrou na pesagem.

- O que me impressionou foi a tensão dos dois promotores quando chegou o Murray e a equipe para a pesagem. O cara realmente tinha uma fama de mafioso, o grupo dele era muito barra pesada. Na hora da encarada, ele rasgou uma bandeira brasileira do calção e pisou achando que fosse intimidar o Anderson... O Anderson sorriu, encostou a cabeça no inglês e disse em bom português: "De onde eu venho a gente não se assusta com cara feia", e o empurrou para fora do tablado. Os seguranças tiveram um tremendo trabalho, mas o fato é que o Anderson desestabilizou o cara ali naquele momento.

- Rolou esse clima na pesagem, mas logo depois poderia ter confusão ainda em várias situações, porque ninguém podia nem sequer falar mal do Lee Murray, senão os soldados dele iam resolver a parada. Foi uma época complicada – relembra Jean Silva.

 

De fato, os problemas daquele momento acabaram por ali, mas o dia seguinte poderia ser pior, afinal, Anderson iria encarar o combate contra Murray e toda a pressão da torcida, em um clima hostil que mexeria com o psicológico de qualquer lutador. Damaso lembra que os outros brasileiros no card, Silvio Urutum e Johil de Oliveira, dividiram o mesmo vestiário que eles. Ambos foram derrotados.

- O Johil perdeu a luta dele, e o Urutum até estava bem na luta, mas acabou nocauteado. Com isso aumentou um pouco a pressão em cima do Anderson, mas ele estava na boa. Na hora dele lutar, tinha toda aquela pressão da galera. E o cage era colado com a torcida. Os caras metendo muita pressão, mas na real isso não fazia diferença para a gente.

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Bastidores do Cage Rage: Anderson, de boné, e Damaso, de camisa azul, na primeira luta do "Spider" na Inglaterra — Foto: Arquivo Pessoal/Damaso Pereira

Já campeão do evento inglês, Jean Silva lembra bem a atmosfera que era criada em cada edição do show.

- Quando o Lee Murray chegava, ele levava o público dele mesmo, então era uma atmosfera de violência, uns brigões, uns hooligans, iam todos para os eventos. Foi muita pressão sobre o Anderson. Mas o Anderson já era cascudo, tinha mente de lutador.

 

O combate durou 15 minutos, Anderson foi superior e venceu na decisão dos jurados. Campeão mundial de jiu-jítsu e ex-lutador de MMA, Vítor "Shaolin" Ribeiro estava em Londres naquele dia, e acabou entrando na arena para auxiliar seu compatriota.

- Fui assistir o evento e meu amigo Alex de Souza me apresentou o Anderson. Ele não tinha nenhum córner de chão, a galera dele era do muay thai mesmo. Ele era super respeitoso e então fiquei no córner dele. Mas ele tinha tudo mastigadinho, ele sempre foi predestinado, tava super bem treinado. Ele sabia que aquilo era uma arapuca, e soube fazer tudo certinho pra não ficar no chão. Minha maior instrução foi pra ele brigar e não deixar a luta ficar no chão, pois os caras queriam roubar ele de algum jeito. O Anderson espancou o cara, começou a dar umas pancadas, dava umas porradas na canela dele. Meu Deus do céu! Coitado do branquelo, ele deve lembrar do Anderson até hoje. Ele começou a acusar os golpes e tentar derrubar, e eu falava pro Anderson não cair. Os técnicos dele foram ótimos, estava muito bem treinado. Ele estava num gás perfeito. Ganhou super bem. O inglês não sabia onde botar a cara, os donos do evento também não.

- Armaram a arapuca, mas chamaram o cara errado pra arapuca, pois o Anderson não iria perder naquele dia. Ele lutou muito, estava solto, parecia que tava treinando. O ginásio ficou calado, ninguém falava nada. Foi um lutaço!

http://sportv.globo.com/lutas/videos/v/anderson-silva-x-lee-murray-cage-rage/8178719/

 

Os melhores momentos de Anderson Silva x Lee Murray (Cage Rage)

Damaso conta que o domínio do brasileiro foi total no duelo, tanto que Murray surpreendeu a todos com a reação que teve depois do combate.

- O clima na arena era pressão total, mas isso não intimidou o Anderson, pois já estava acostumado a lutar com pressão contra ele. Depois da luta, o Lee Murray passou no vestiário, pediu desculpas por ter falado muito, sentou e tirou uma foto com o Anderson. Ele aceitou a derrota e viu que o Anderson era totalmente superior.

A vitória rendeu ao brasileiro o cinturão de campeão dos médios do evento. Anderson seguiu brilhando na organização, onde defendeu o título em três oportunidades, incluindo a que aplicou um famoso nocaute com uma cotovelada em Tony Fryklund. Em 2006, assinou com o UFC e segue contratado da maior organização de MMA do mundo até hoje.

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Anderson Silva comemora a vitória contra Lee Murray — Foto: Marcelo Alonso

Murray, por sua vez, não teve o mesmo sucesso. Pelo contrário. O duelo com Anderson foi a última luta de MMA de sua carreira. Depois, acabou parando atrás das grades, como recorda Jean Silva.

- Quando eu soube o que ele realmente fazia, decidi ir embora. Ele pediu para eu ficar, pois era amigo dele, mas eu disse que precisava resolver algumas coisas no Brasil. Fiquei por lá escondido, não voltei mais. Já vi a mão de Deus aí em me livrar dele, pois eu andava com ele em vários lugares. Passaram uns meses, eles estavam arquitetando um assalto, que foi o maior assalto da história da Inglaterra. Foi um roubo de 53 milhões de libras!

O assalto citado por Jean Silva aconteceu em 2006. Murray e seus comparsas roubaram 53 milhões de libras (cerca de R$ 280 milhões) de um banco e o ex-lutador acabou preso no Marrocos. Inicialmente, foi sentenciado a dez anos de prisão. Em 2009, teve frustrada uma tentativa de fuga da prisão. No ano seguinte, teve sua pena aumentada para 25 anos de detenção, e segue preso até hoje no país. Em 2018, disse em entrevista que continua treinando e espera receber o perdão do Rei Mohammed VI, pois sonha em voltar a lutar no UFC.

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pra quem não acompanhava, vale a pena buscar lutas do cage rage

era um evento muito foda

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Esse Anderson era sinistro, mesmo hoje com lutadores maiores e melhores tecnicamente ainda faria excelentes lutas, o ginásio ficou mudo com a performance dele!

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