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Sérgio Guilherme

ENTREVISTA HÉLIO GRACIE(2004 EU ACHO)

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BASTANTE CURIOSIDADES E POLEMICAS!

http://www.scribd.com/doc/36906467/Entrevista-Playboy-Elio-Gracie

rsrs.. perguntaram se ele pretendia ler o livro de reila gracie, ele disse que sim para ver as besteira que ela iria colocar!

A melhor entrevista que já vi do Mestre, muito legal mesmo!

Editado por Sérgio Guilherme

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Entrevista publicada em fevereiro de 2001

Entrevista

Hélio Gracie

Uma conversa franca com o pai do jiu-jítsu moderno sobre golpes poderosos, homens frouxos, porradas e sexo para procriação

Por Dalila Magarian

No mundo das artes marciais, ninguém duvida de que o jiu-jítsu brasileiro possui seu próprio sobrenome: Gracie. Tentar compor a árvore genealógica da família, porém, são outros quinhentos. Fazendo-se as contas do número de filhos, netos, bisnetos e sobrinhos-netos herdeiros do sobrenome, estima-se que o vasto clã de Hélio Gracie, o único patriarca ainda vivo da família, hoje com 88 anos, alcance a marca de 150 pessoas. "Desses não conheço nem a metade", afirma o professor Hélio, como é conhecido e tratado pelos mais jovens, e que atribui para si a criação das técnicas que revolucionaram o jiu-jítsu e renderam à família não apenas dinheiro, como também sucesso e fama.

Hélio Gracie é pai de três campeões do mundo de jiu-jítsu, reconhecidos internacionalmente: Rickson e Royce, que moram nos Estados Unidos, e Roiler, dono de uma academia no Rio de Janeiro. Outros membros da família têm reputação menos recomendável. E em alguns casos isso ficou registrado em boletins de ocorrência policial. Ryan Gracie, por exemplo, sobrinho-neto de Hélio, teve sua prisão preventiva decretada em fevereiro do ano passado. Foi acusado de esfaquear o vendedor e também lutador de jiu-jítsu Marcus Vinícius Rosa durante um baile de lambaeróbica no Rio de Janeiro.

Há ainda acusações generalizadas de entidades de defesa de homossexuais. Consideram que a família Gracie tem atitudes agressivas e preconceituosas contra lésbicas e gays. Embora condene a violência, Hélio não deixa dúvidas sobre sua posição: "Considero o homossexualismo uma aberração da natureza". Essa e outras "grandes verdades" são apresentadas como postulados por esse senhor afável. Ele costuma escrever suas principais pensatas. Guarda as reflexões em pastas. E a elas recorre quando algum tema controverso é colocado em pauta.

Há notas que provocariam impetigo em militantes do politicamente correto. A síntese de um desses textos: "Mulher só é independente se tiver um homem frouxo". Mas não se pense que apenas as minorias tradicionalmente vistas como alvo de ataque dos jiu-jitseiros recebem petardos do professor. Para os próprios lutadores sobram alguns estilhaços. Hélio Gracie declara sem meias palavras que os alunos menos inteligentes assimilam melhor e mais rápido as técnicas do jiu-jítsu. "O inteligente cisma de ficar pensando antes de fazer o golpe."

Para entrevistar Gracie, PLAYBOY destacou a repórter Dalila Magarian. Dalila foi até o sítio onde há oito anos ele vive retirado em Itaipava, na região serrana do Estado do Rio de Janeiro, a 100 quilômetros da capital. Eis o seu relato: "Tive três encontros com o professor Hélio. Na chegada ao sítio, localizado a cerca de 2 quilômetros do centro da cidade de Itaipava, cuja placa de entrada anuncia o nome ‘Nosso Vale’, fui recebida, sempre, por seis enormes cães da raça mastim napolitano. O professor aparecia em seguida, com o sorriso aberto e um aperto de mão bastante forte, marcas registradas dos três dias de bate-papo animado, sempre na varanda que dá vista para um enorme pasto verde ocupado por umas poucas cabeças de gado. A área toda, cerca de 320000 metros quadrados, é cuidada pessoalmente por ele e pela esposa, Vera, de 56 anos. Lá fabricam um legítimo queijo fresco com o qual me deliciei na segunda visita.

Durante a entrevista, o professor Hélio me surpreendeu não apenas pela boa disposição, mas também pela rapidez de raciocínio, demonstrando ser, também, um homem pouco dado a mudanças de idéia. Várias vezes transpareceu estar desgostoso com o destino do jiu-jítsu no Brasil. Chegou a garantir, com todas as letras, que ainda não deixou o país para morar com os filhos que vivem nos Estados Unidos por falta de quem lhe compre o belo naco de terra, avaliado em 5 milhões de reais. Com opiniões nem sempre muito populares a respeito de sexo e otras cositas más, ele demonstrou que não tem medo de dizer o que pensa. Nem que seja para afirmar que ‘Sexo só é válido para fazer filho’."

PLAYBOY – O senhor já bateu em muita gente?

GRACIE – Eu tinha um péssimo temperamento na adolescência. [Risos.] Mas fazia muito papel de bobo também. Às vezes desafiava quem não estava nem aí para mim. Uma ocasião cismei que um cidadão estava me olhando esquisito num baile. Cheguei perto e perguntei se ele estava me achando com cara de veado. Daí ele olhou para mim como se me visse pela primeira vez e percebi que estava fazendo papel de palhaço. Saí de fininho, tremendo nas pernas. Uma outra vez tomei uma surra terrível de um cara de 1,80 de altura. Não estava preparado. Essas duas ocasiões me serviram como lição. Descobri que ser valente não é ser brigão. Passei a ensinar isso nas minhas aulas.

PLAYBOY – Que diferenças há entre o jiu-jítsu que o senhor ensina e o tradicional?

GRACIE – Adaptei o jiu-jítsu à minha pessoa. Era fraco, desajeitado, leve. [Com 1,75 metro, nunca passou dos 63 quilos.] Não conseguia fazer o que o meu irmão [Carlos] fazia, pois o jiu-jítsu dele dependia de força e habilidade. Eu não tinha nem uma coisa nem outra. Então fiz o que se conhece hoje. Aperfeiçoei a técnica precária de meu irmão em prol dos mais fracos, usando os princípios da física, como a força da alavanca. Você, por exemplo, não é capaz de levantar um automóvel com uma das mãos, mas com um macaco você levanta. Foi o que fiz. Descobri golpes de alavanca capazes de otimizar a força. Essas modificações foram de tal forma superiores ao que existia antes que hoje o mundo inteiro aprende jiu-jítsu do meu jeito.

PLAYBOY – Então, para lutar jiu-jítsu não é preciso ser forte?

GRACIE – Não. Você mesma, se aprendesse o meu método, poderia dar uma surra em qualquer homem por aí. [Risos.] Não é uma questão de habilidade ou de força, mas de saber usar direito a técnica de alavanca. Com um único dedo eu sou capaz, apesar da minha idade, de botar um homem no chão. Vou dar um exemplo. [Ele se levanta e me pede para ficar diante dele. Em seguida manda segurá-lo com as duas mãos pelo pescoço. Dois segundos depois, fico presa numa chave-de-braço.] Viu como é fácil? [Risos.] É uma espécie de ratoeira. A ratoeira não corre atrás do rato. Mas, quando o rato bota sua garra no queijo, a armadilha dispara. Toda agressão se encaixa num tipo de defesa. É a agressão que define o tipo de golpe.

PLAYBOY – Quais são os tipos de agressão mais comuns?

GRACIE – Não existem dez tipos de agressão diferentes. Pode ser soco, pontapé, cabeçada, paulada, facada... No jiu-jítsu existem 100 tipos de defesa para essas agressões. Para cada tipo nós temos três ou quatro golpes diferentes. Eu mesmo, que nunca pesei mais do que 63 quilos, já botei no chão homens de 120 quilos. É isso o que meu filho Royce mostra nas lutas de Ultimate Fight.

PLAYBOY – O Ultimate Fight é uma invenção da família GRACIE?

GRACIE – Sem dúvida. O Ultimate Fight foi inventado pelo meu filho Rorion. Todo mundo que pratica uma luta de arte marcial diz que sua própria é a melhor. Então, para saber qual realmente é a mais efetiva, meu filho decidiu criar o Ultimate. E meu outro filho, o Royce, ganhou de todos os concorrentes. Ele é um campeão invicto. Isso impressionou de tal forma os americanos que hoje o mundo inteiro aprende jiu-jítsu conosco, até mesmo os japoneses, que foram os inventores da luta. [Risos.] Minha família agora já tem uma forte tradição no jiu-jítsu.

PLAYBOY – A propósito, qual é a origem da família Gracie?

GRACIE – O meu bisavô, James Gracie, era escocês. Ele se desentendeu com o governo de lá e mudou-se para o Brasil. O filho dele, meu avô Pedro, era banqueiro no Rio de Janeiro e teve dezoito filhos, entre eles meu pai. Quase todos eram diplomatas. Meu pai, Gastão, falava cinco línguas e ia assumir um posto diplomático na América Central, mas antes de chegar lá desembarcou em Belém do Pará e apaixonou-se por minha mãe, Cesalina, e ficou por lá mesmo [e estabeleceu-se como importador de dinamite]. Eles tiveram cinco filhos homens [Carlos, Oswaldo, Gastão Filho, Jorge e Hélio] e três mulheres [Mary, Helena e Ilka]. Depois da morte do meu avô, nós saímos de Belém e viemos para o Rio de Janeiro.

PLAYBOY – Diplomacia e paixão, isso parece coisa de cinema... Mas onde entra o jiu-jítsu?

GRACIE – [Risos.] Meu irmão, Carlos [morto em 1995, aos 94 anos], aprendeu a luta com um professor japonês em Belém chamado Mitsuyo Maeda, conhecido como conde Koma, um ex-campeão de jiu-jítsu [e adido comercial de seu país no Brasil]. Ele era amigo do meu pai e conhecia sua preocupação com os filhos mais velhos, metidos em brigas de rua. Maeda ensinou a técnica e o Carlos começou a dar aulas para os amigos do Banco do Brasil. Acabou fazendo disso uma profissão.

PLAYBOY – O senhor também foi aluno de Maeda?

GRACIE – Não. Eu era o caçula, não tinha idade para isso. Também não recebi aulas do Carlos, embora o considere o meu segundo pai. O que aconteceu foi que eu estudava no Colégio Diocesano, do Rio, e sofria de vertigens e desmaios. Como ninguém sabia o que eu tinha, acabei convencendo minha mãe a me tirar da escola. Fiz apenas até o terceiro ano primário. Perto dos 14 anos, não tinha o que fazer e passava o dia inteiro vendo o meu irmão dar aulas para os outros. Depois de um ano e meio eu já parecia um papagaio, sabia repetir tudo o que ele explicava para os alunos. Um dia o Carlos estava atrasado e dei aula no lugar dele. A partir daí resolvi adaptar o jiu-jítsu ao meu próprio jeito.

PLAYBOY – Uma outra parte da família Gracie atribui o sucesso do jiu-jítsu ao seu irmão, Carlos. São duas linhas de luta diferentes?

GRACIE – Não se trata de linha. É como comparar o avião do Santos-Dumont com o supersônico de hoje. Quem atualmente iria querer voar com o teço-teco do Santos-Dumont? Ou quem gostaria de andar num Ford bigode fabricado em 1930? O que eu quero dizer é que não inventei o jiu-jítsu. Mas o que eu peguei era uma porcaria, assim como o aviãozinho do Santos-Dumont. Não iria daqui até a esquina voando nele. Não existe um outro jiu-jítsu para mim além daquele que aprimorei.

PLAYBOY – Como foi a sua estréia no ringue?

GRACIE – Eu tinha 17 anos e lutei contra um campeão brasileiro de boxe, Antônio Portugal. Venci em 30 segundos. O boxer me mandou um soco, eu bloqueei, o derrubei no chão, montei nele e dei uma chave-de-braço.

PLAYBOY – Que outros combates lhe renderam crédito?

GRACIE – Um deles foi contra o japonês I. Ono, que liderava uma academia de jiu-jítsu em São Paulo. Eu já tinha 37 anos. O desafio previa rounds de 20 minutos. Quando o primeiro terminou, eu não enxergava nada, estava praticamente desmaiado. Meu irmão me deu amoníaco para cheirar. No segundo e no terceiro rounds, estava recuperado. O japonês acabou caindo numa posição ruim e eu o enforquei. Deu sorte, porque o gongo soou e tive de soltá-lo. Passou o restante dos rounds fugindo de mim no ringue. Não houve vencedor no tempo regulamentar, mas o combate me tornou famoso.

PLAYBOY – Seu encontro com o campeão japonês Yukio Kato, em 1951, o tornou ainda mais popular. Como foi?

GRACIE – Um jornal japonês [Asahi Shimbum] havia patrocinado a vinda de três campeões japoneses ao Brasil. Um deles era o [vice] Kato, que me desafiou. A primeira luta foi no Maracanã e não houve vencedor nos três rounds. A segunda aconteceu no estádio do Pacaembu [em São Paulo] e ganhei no segundo round. Depois dele veio o Masahiko Kimura, que pesava 98 quilos e estava invicto havia quinze anos. Até o presidente da República [Eurico Gaspar Dutra] foi assistir à luta. O Kimura dizia que, se não ganhasse de mim em 3 minutos, o título seria meu. Lutei com ele durante 15 minutos.

PLAYBOY – E levou o título?

GRACIE – Não ganhei porque meu irmão [Carlos] jogou a toalha por mim quando me viu preso numa chave-de-braço. O Kimura aproveitou e saiu do ringue. O juiz veio me perguntar e eu confirmei, porque sabia que meu irmão havia jogado a toalha por mim e seria desonestidade negar. Mas não me considerei verdadeiramente vencido.

PLAYBOY – Se o senhor lutasse contra o boxeador Acelino da Silva, o Popó, seria uma disputa fácil?

GRACIE – O Popó é um colosso, tenho admiração e respeito por ele. Mas, para um bom lutador de jiu-jítsu, não existe adversário praticante de outras lutas. Ele [Popó] cairia em 2 minutos. Se for lutar contra as técnicas do jiu-jítsu, está roubado. Tem de terminar logo, porque eu, levando um murro daqueles, cairia na mesma hora. Mas os recursos do jiu-jítsu são muitos.

PLAYBOY – Nunca se machucou numa luta?

GRACIE – Nunca. Em compensação, já quebrei quatro costelas quando caí do telhado, fazendo um conserto aqui em casa. [Risos.] E também fraturei a perna num tombo de bicicleta. [Risos.] Minha primeira luta oficial foi em 1934, no Rio de Janeiro. Tinha 20 anos. Era um vale-tudo, tinha soco, pontapé... O adversário pesava 100 quilos. Mas eu ganhei. [Risos.]

PLAYBOY – Qual a diferença entre o jiu-jítsu e o vale-tudo?

GRACIE – No jiu-jítsu há regras. Tem de se respeitar peso, faixas, regulamentos. O vale-tudo é uma briga, cada um faz o que quer. Mas, como o que eu prego não é uma coisa nem outra, e sim um jiu-jítsu de eficiência pessoal, para proteger os mais fracos, qualquer um pode fazer. É a força de alavanca contra a força bruta.

PLAYBOY – E em brigas de rua, nunca o senhor apanhou?

GRACIE – Também não. [Risos.] Uma vez meu irmão, Carlos, estava na janela da academia e jogou miolo de pão num vendedor de galinhas. Era uma brincadeira, mas ele se zangou e o Carlos me mandou ir lá embaixo dar um jeito no homem. Apliquei um estrangulamento e ele ficou na calçada, desacordado. Quando acordou não se lembrava de nada que tinha acontecido. Quando a pessoa desmaia por insuficiência sanguínea, o efeito colateral é uma espécie de amnésia. O sujeito fica um tempo meio bobo.

PLAYBOY – Houve outras brigas de rua memoráveis?

GRACIE – Não foram muitas, porque eu era um brigador de ringue, não de rua. Mas uma outra vez um chofer de táxi me fechou numa rua do cais do porto. Ou talvez eu o tenha fechado. O certo é que acabamos discutindo, descemos do carro e eu deixei o cara dormindo na calçada, com um golpe de estrangulamento. Peguei meu carro e fui embora.

PLAYBOY – Só teve mais essa briguinha mesmo?

GRACIE – Teve uma outra, em Petrópolis [na região serrana do Rio de Janeiro]. Eu dirigia um serviço de operários numa obra e o motorista de um caminhão desceu da boléia querendo brigar depois de uns desaforos. Eu o fiz dormir também.

PLAYBOY – Nunca teve medo de matar alguém por estrangulamento? GRACIE – Não. Sei o ponto certo de parar. Antes de morrer o sujeito desmaia. Só morre se a pressão no pescoço continuar além desse ponto. E o estrangulamento é a minha especialidade. Criei fama no Japão assim. Devido a minha constituição física fraca, tenho de atingir o adversário rapidamente. Quando se pega no pescoço não tem valente. Todo mundo dorme muito rápido. [Risos.]

PLAYBOY – Quando é válido utilizar os golpes do jiu-jítsu?

GRACIE – Quando, depois de tentar uma conversa civilizada, o sujeito parte para a agressão. Não há por que dar o primeiro golpe. Como sei que não apanho, dou ao outro a chance de evitar o confronto. Agora, se o sujeito é metido a valente, não posso fazer nada. Como defesa, estou amparado pela lei.

PLAYBOY – Foi isso o que o senhor fez quando chegou a ser preso por agressão?

GRACIE – Isso foi há 66 anos, na última grande encrenca em que me meti. Um lutador famoso no Brasil, o [ex-campeão de luta livre] Manoel Rufino dos Santos, dizia que, se não estivesse afastado dos ringues, iria mostrar a todo mundo que nós, da família Gracie, não éramos de nada. Então fui lá [ao Tijuca Tênis Clube, no Rio] dar uma resposta a ele. Cheguei e disse: "Vim lhe trazer uma resposta à declaração que você deu". Ele me deu um soco e eu o botei no chão, com duas fraturas na cabeça, a clavícula quebrada, o sangue espirrando longe. Mas foi uma besteira que fiz. Hoje jamais repetiria uma coisa dessas.

PLAYBOY – E o que aconteceu?

GRACIE – Foi instaurado um processo criminal e fui condenado a dois anos e meio de detenção. A apelação foi para o Supremo Tribunal, meu advogado era o Romero Neto, e o relator confirmou a sentença dizendo: "Hoje foi com o Manoel Rufino dos Santos. Amanhã seremos nós".

PLAYBOY – Quanto tempo o senhor ficou na cadeia?

GRACIE – Nunca fui para a cadeia. Duas horas depois de o Supremo confirmar a sentença, o [então presidente] Getúlio [Vargas] me indultava. Uma aluna nossa, Rosalina Coelho Lisboa, cujo irmão era embaixador, era muito chegada ao Getúlio e interferiu dizendo que não era justo um rapaz tão jovem ir para a cadeia por causa de uma briga de rua. Ele era bom sujeito e me indultou. O Supremo Tribunal ficou desmoralizado. [Risos.] Depois disso por várias vezes me encontrei com Getúlio. E dei aulas ao filho dele, Maneco.

PLAYBOY – O seu sobrinho-neto Ryan Gracie também teve problemas com a Justiça, quando bateu em um homem e o esfaqueou depois de uma discussão numa boate do Rio, em fevereiro do ano passado, não foi?

GRACIE – Considero tudo isso lamentável. Ninguém ignora que a família Gracie atuante no Brasil está dividida em duas. A primeira é oriunda de Carlos Gracie, meu irmão, homem de grandes qualidades, valente, tolerante e de moral inabalável. Seu único erro foi ter tido 21 filhos com cinco mulheres diferentes, gerando um enorme clã com mais de 150 pessoas, hoje sem um líder que as aconselhe, controle e oriente. Não conheço nem a metade delas. Numa família com tanta gente, existe de tudo, gente de todo tipo. A segunda parte da família é a minha, Hélio Gracie, com nove filhos, que acabaram por projetar-se e destacar o jiu-jítsu no Brasil e no mundo. Agora, para vender mais jornal, tudo o que acontece com sobrenomes famosos ganha destaque na mídia. Os editores não se preocupam se vão ou não atingir pessoas inocentes que possuem o mesmo sobrenome.

PLAYBOY – Não é essa a questão. O caso foi notícia porque realmente havia notícia. Ryan Gracie foi acusado de tentativa de homicídio e chegou a ter prisão preventiva decretada.

GRACIE – Os meus filhos nunca estiveram envolvidos com atitudes fora da lei, isso posso garantir. Quanto aos demais, não sei responder.

PLAYBOY – O senhor é do tipo que não leva desaforo para casa?

GRACIE – Sou do tipo que não deixa passar camarão pela malha. Se o sujeito diz uma coisa que não me convém, não me agrada ou não é verdade, chamo a atenção dele.

PLAYBOY – Conte algum caso.

GRACIE – Ih, minha filha, foram tantas vezes que já nem lembro mais. Qualquer um que diga alguma coisa errada sobre mim, eu ligo e peço para provar. Se bem que, hoje em dia, tem tanta gente falando da família Gracie sem saber de nada direito que anda difícil fazer concorrência com tanta mentira.

PLAYBOY – Indo para um assunto mais ameno, a prática do jiu-jítsu favorece o sexo?

GRACIE – O que posso dizer é que nunca fiz sexo com uma mulher sem a finalidade de procriar. Também ensinei isso aos meus filhos e já tenho vários netos. Nunca fui veado. Na minha juventude, fazia muito sucesso com as mulheres, era considerado uma celebridade no país, toda moça logo se interessava por mim. Eu dava um beijinho, abraçava, namorava, era mulherengo, mas não passava dos limites. Sempre tive força de vontade. Quando elas queriam avançar, eu ia logo perguntando se estavam a fim de ter um filho meu, porque para mim tudo bem, eu queria ter filhos. Daí elas paravam logo com o agarramento. [Risos.]

PLAYBOY – E de onde saía tanta força de vontade para resistir?

GRACIE – Saía da minha convicção e do meu respeito pela natureza. Eu dominava a tentação do prazer por uma questão de moral. Aprendi isso com o meu irmão, Carlos, que era um espiritualista.

PLAYBOY – O senhor acha que sexo faz mal?

GRACIE – Não há nada mais gostoso do que sexo e amor entre duas pessoas que se querem bem. Mas fazer sexo pelo sexo faz mal, gasta energia desnecessariamente. Agora, é ainda pior deixar de fazer sexo e não cumprir a finalidade da natureza, ou seja, o sexo como instrumento de procriação. Eu tenho uma irmã freira [Mary, de 85 anos, que vive interna na Congregação de Nossa Senhora de Sion, em São Paulo]. Isso me deixa danado. Preferiria que ela fosse uma vagabunda. Cumpriria melhor sua missão na Terra como mulher do que essa de ser uma virgem. Uma mulher que tem seios, ovários, que nasceu perfeita, deve ter filhos. Do contrário está indo contra a natureza.

PLAYBOY – Quantas vezes o senhor fez sexo na vida?

GRACIE – [Pausa.] Olha, sou recordista mundial de pouca transação. Com minha projeção, poderia ter transado com o Brasil inteiro. Mas nunca tive relações com mais de dez mulheres. E só transei com mulheres que aceitavam a idéia de ter filhos.

PLAYBOY – Então, fazendo as contas, se o senhor teve nove filhos, transou pouco mais de nove vezes?

GRACIE – Não, também não era assim. Tinha vezes de transar toda noite. Mas nem todo mês a mulher engravida, porque Deus não manda. Então, transava quantas vezes quisesse, até vir a gravidez, ou quando a mulher solicitava. A prova maior da minha abstinência provém do número de mulheres com quem tive sexo. E foram dez em toda a minha vida. É onde está o meu mérito. Tive umas trinta namoradas, mas não passava de um beijinho aqui, um beijinho ali.

PLAYBOY – Só para checar, então: o senhor é contra ou a favor da camisinha?

GRACIE – [Enfático.] Deus me livre! Nunca usei camisinha-de-vênus. Não existiu mulher no mundo que me fizesse usar camisinha. Nem se fosse a última mulher do mundo! Ia morrer sem transar. Meus filhos também não usam e tenho 28 netos.

PLAYBOY – Quer dizer que o senhor e os seus filhos se julgam imunes à Aids?

GRACIE – [indignado.] Esse negócio de Aids é de quem se envolve com depravação e sujeira. Nem eu nem meus filhos bancamos os Don Juans. [Exasperado.] Quem tem medo de Aids é porque anda fazendo sexo com qualquer uma. E quem faz sexo com qualquer uma, para mim, é cachorro.

PLAYBOY – O senhor já broxou alguma vez?

GRACIE – Não, isso nunca me aconteceu.

PLAYBOY – É proibido transar antes de uma luta?

GRACIE – Mesmo um grande campeão não consegue manter a performance depois de uma noite de sexo. Qualquer recordista sofre os efeitos do sexo, pois ele representa um grande gasto de energia. Se o sexo serve para fazer um ser humano, imagine quanta energia está envolvida nesse ato. Não é proibido transar antes de uma luta, mas digo que não é recomendado. É uma questão de bom senso.

PLAYBOY – Quantas esposas o senhor teve?

GRACIE – Duas. Vivi com a minha primeira mulher, Margarida, por cinqüenta anos. Com ela tive três filhos [Rorion, Relson e Rickson]. Quando ela morreu, me casei com a Vera [a atual, 32 anos mais jovem do que ele], que me deu mais seis filhos. Não sou homem de largar mulher.

PLAYBOY – Por que os nomes de todos os seus filhos começam com a letra R?[A lista: Rorion, de 50 anos; Relson, 46; Rickson, 42; Rolker, 36; Royler, 35; Royce, 34; Rhérika, 32; Robin, 29; Ricci, 23.]

GRACIE – Porque o R é uma letra forte. O som da letra é mais potente. Você acharia mais forte o som de Orion ou o de Rorion, por exemplo? Claro que é Rorion! Aprendi isso com o meu irmão, Carlos. Os filhos dele têm nomes que começam com as letras R, C e K.

PLAYBOY – Qual de seus filhos é melhor lutador?

GRACIE – Tecnicamente todos se equivalem. Todos aprenderam as técnicas comigo. Mas o Rickson se apresenta hoje como o líder da família, porque também é o mais forte, tem quase 90 quilos. O Rorion também era forte, mas agora não luta mais, administra a academia e a carreira do irmão. Na família todos foram campeões.

PLAYBOY – Nenhum de seus filhos homens quis seguir outra profissão?

GRACIE – O Rorion é também advogado, um bom técnico e administrador. Mas todos os outros completaram o curso colegial e pronto, continuaram apenas no jiu-jítsu.

PLAYBOY – Rorion está escrevendo um livro a seu respeito. O que o senhor deseja transmitir com sua história?

GRACIE – A verdade sobre o jiu-jítsu. Tenho uma sobrinha-neta, a Reylla, que está escrevendo um livro sobre o meu irmão Carlos Gracie. Acho isso muito esquisito, porque ela nasceu quanto ele já tinha quase 65 anos. Vai acabar escrevendo um livro sem fundamentos, ouvindo gente que também não o conheceu na mocidade. O único que está vivo sou eu. De modo que acredito que meu livro vai sair mais verdadeiro. A minha história dá para provar.

PLAYBOY – Pretende ler o livro dela?

GRACIE – Pretendo, para ler as besteiras que ela vai botar nele.

PLAYBOY – Isso está parecendo um pouco de ciúme...

GRACIE – Pois não é. A verdade é que o Carlos nunca botou um quimono para dar aula a filho nenhum dele. Quem ensinou a eles fui eu. A Reyla está contado a história de um homem que não conhece. Para mim, isso não parece muito honesto. É muito vago escrever um livro entrevistando pessoas que conheceram meu irmão. Cada um fala o que quer, o que acha, mas ninguém prova nada. Ela quer fazer média usando o sobrenome Gracie, mas não tem nenhuma base.

PLAYBOY – Rorion requereu a patente do nome Gracie para a sua técnica de jiu-jítsu nos Estados Unidos. Ela ainda é válida?

GRACIE – Ele requereu a patente do nome Gracie como método de ensino anos atrás, para evitar que o povo americano fosse enganado por outras pessoas que usavam o nome em academias como se pertencessem à nossa família. Essa patente vigorou durante muito tempo, mas não pôde ser renovada. O governo americano negou a renovação por considerar que agora o jiu-jítsu é uma arte marcial nova. Concordo, porque isso é um reconhecimento da minha técnica. Recebi um certificado do governo dos Estados Unidos reconhecendo que sou o criador do jiu-jítsu praticado lá.

PLAYBOY – Hoje em dia, como defesa pessoal, é melhor andar armado ou aprender jiu-jítsu?

GRACIE – Um revólver é uma arma de dois gumes. Se o ladrão descobre, toma a arma e ainda passa bala. Já o jiu-jítsu o ladrão não pode ver, e corre o risco de ser desarmado. Nunca usei arma.

PLAYBOY – O que o senhor faria se fosse assaltado?

GRACIE – Depende. Se fosse um sujeito só, numa distância razoável, tomaria o revólver da mão dele com um só golpe. Agora, se fossem vários assaltantes armados, entregaria tudo na mesma hora, porque não sou bobo. Nesses casos reagir é besteira, porque vai morrer. Ladrão é um cara apavorado, que não acredita nele, só no revólver. Qualquer reação e ele dá um tiro na mesma hora. O perigo do assaltante brasileiro é a insegurança dele. Eu mesmo, se quisesse assaltar alguém, não precisaria de revólver. Bastaria segurar no pescoço da vítima e pronto, levava tudo.

PLAYBOY – Depois do jiu-jítsu, qual o esporte mais efetivo como defesa pessoal?

GRACIE – O boxe. Só tem um defeito: demora muito para você nocautear o adversário. Tem de bater e apanhar muito primeiro. Mas um bom boxer, numa briga, é excelente. Agora, para ser um boxer tem de treinar muito. No jiu-jítsu, quarenta aulas comigo são suficientes, duas por semana, para dar tempo ao subconsciente de assimilar tudo.

PLAYBOY – Que tipo de aluno dá mais trabalho para treinar?

GRACIE – O aluno inteligente, sem dúvida nenhuma.

PLAYBOY – Por quê?

GRACIE – Porque o aluno inteligente cisma de ficar pensando antes de fazer o golpe. Com essa preocupação, acaba ocupando o inconsciente, e isso não funciona. Quero dar ao aluno bons reflexos. O metido a esperto quer entender o que está fazendo e isso atrapalha o seu reflexo. No dia em que ele achar que entendeu, vai querer fazer como vê, não como ensinei. Quer dizer, vai fazer tudo errado. Uma criança, uma moça, um burro vai aprender mais depressa do que o inteligente. A criança vai lá e faz, não fica questionando.

PLAYBOY – Então, para ser bom lutador de jiu-jítsu tem de ser burro?

GRACIE – Não é isso. [bravo.] A aprendizagem do jiu-jítsu é um processo para o subconsciente, não para o consciente. Não ensino para o aluno aprender, mas para que ele execute. Essa é a diferença. Se ensino alguma coisa para uma pessoa inteligente, ela aprende rápido porque guarda na memória. Mas no jiu-jítsu o bom aluno tem de saber agir na surpresa. Se parar para buscar o que aprendeu na memória, está perdido. Não se trata de decorar movimentos, mas de ter o reflexo certo na hora em que a agressão acontece. E a agressão sempre acontece de surpresa.

PLAYBOY – Como o senhor resolve esse tipo de impasse? Quero dizer, como ensina o aluno inteligente?

GRACIE – Tenho de mostrar na prática que a força e a inteligência dele não servem para nada. Tenho de botar logo o sujeito no chão para fazê-lo entender que é melhor fazer o que estou mandando, sem parar para pensar.

PLAYBOY – O ser humano, por natureza, gosta de lutar?

GRACIE – O homem é um guerreiro nato. Luta no estudo, no trabalho, na hora de sustentar a família. Já a mulher não nasceu para guerrear. Ela hoje está lutando pela vida porque não tem homem que preste para cuidar dela. Já chega, para a mulher, ter de cuidar da casa. O homem nasceu para lutar pela vida, e a mulher para cuidar de seu guerreiro.

PLAYBOY – O que o senhor pensa a respeito da independência feminina?

GRACIE – Espere um pouco. [Levanta-se e volta com uma pasta, de onde pega um papel manuscrito e começa a ler.] "Para mim é fácil diagnosticar os homens que preferem mulheres independentes: os cafetões, os efeminados, os preguiçosos, os indivíduos de personalidade fraca e frouxa, que gostam que as mulheres os protejam, em vez de protegê-las. A natureza não criou o homem e a mulher por engano, mas sim para que cada um faça a sua parte. O homem para sustentar a mulher e ela para cuidar dos filhos, que serão os homens com H maiúsculo de amanhã." [Guarda o papel de volta na pasta.] A falta de homens de valor hoje é tão grande que as mulheres, coitadinhas, não têm outra opção a não ser bancar as independentes.

PLAYBOY – Esse pensamento não é de um extremíssimo machismo?

GRACIE – Não me considero machista. Sou homem. Machista é uma expressão da moda. Homem que não é machista não é homem, do mesmo jeito que mulher que não é feminina não é mulher. Machista, para mim, é ser convicto do papel de homem.

PLAYBOY – O que acha das mulheres que posam nuas?

GRACIE – Não sou a favor. Mulher deve se guardar para o próprio marido. Agora, quando olho para uma mulher nua, analiso o conjunto, para ver se ela é bem-feita de corpo, se tem boa saúde. Não é para ficar pensando em sexo, não. É para apreciar o que a natureza fez de bonito. [Pausa.] As revistas de jiu-jítsu agora estão botando mulheres meio peladas, junto com o esporte. Não aprovo. Isso não tem nada a ver com a luta. Namorada minha jamais posaria nua. Só se eu fosse um frouxo. [Levanta-se e pega uma revista de jiu-jítsu, abrindo numa página dupla com uma foto da Feiticeira.] O namorado dela deve ser um frouxo.

PLAYBOY – Há até pouco tempo ela namorava o Vítor Belfort...

GRACIE – Coitado, ele é um principiante do jiu-jítsu. Tem noção apenas de luta de competição. Uma vez tive de falar com ele por telefone.

PLAYBOY – Por quê?

GRACIE – Ele fez uma declaração falando mal do meu filho Royce. Então telefonei e perguntei se ele estaria disposto a fazer um teste com meu filho. Ele respondeu que só lutava por dinheiro, o que não é o meu estilo. A resposta dele não me agradou. Demonstrou que não tem convicção no que faz. Ele luta bem, mas não é um lutador de eficiência. Fiquei sabendo que já apanhou bastante em algumas lutas.

PLAYBOY – Que alunos famosos já passaram por sua academia?

GRACIE – O [ex-ministro dos Transportes na gestão do presidente Medici e do Interior no governo Figueiredo] Mário Andreazza, o [ex-presidente da República] João Baptista Figueiredo quando trabalhava no SNI [o Serviço Nacional de Informações, que serviu à ditadura militar], o Roberto Marinho...

PLAYBOY – Eles eram bons lutadores?

GRACIE – Mais ou menos. [sorri, condescendente.] Esses homens sempre foram muito ocupados, sem tempo para treinar. Eram também muito ansiosos.

PLAYBOY – Qual deles era melhor aluno?

GRACIE – O Roberto Marinho era repórter na época e não se dedicava verdadeiramente ao jiu-jítsu. Fez porque estava na moda, devido à projeção. Naquela época, no Brasil, não havia muitos esportes importantes como hoje em dia. Então, naquele tempo a imprensa passava um mês inteiro falando só em jiu-jítsu, e o Roberto queria ficar por dentro.

PLAYBOY – E o Figueiredo, como se saía?

GRACIE – Ele foi trazido pelo [Mário] Andreazza, que também veio por causa da projeção. Ele ficou empolgado quando começou a fazer jiu-jítsu, então trouxe todos os oficiais do SNI, inclusive o Figueiredo. Que era um homem muito forte, mas muito tenso. Fez quarenta aulas, o regulamentar, e se saiu razoavelmente bem. Mas não sei como era fora da academia. Nunca tive contato social com ele. Às vezes ele me dizia: "Hélio, vou mandar buscá-lo para uma festa lá em casa". Mas nunca mandava, acho que esquecia o assunto. Era muito ocupado.

PLAYBOY – Sua família enriqueceu com o jiu-jítsu?

GRACIE – Não fiquei rico. E meus filhos trabalham muito, aqui e lá fora, sem descanso. Vivem bem, mas não sobra dinheiro. As despesas com as academias também são grandes. Se entram 2 milhões, 1 [milhão] vai embora só com impostos. Já o meu sítio [com 320 000 metros quadrados, localizado em Itaipava, região serrana do Rio] foi comprado na época em que a terra era barata. Paguei 400 réis. Hoje vale muito, mas ninguém tem dinheiro para comprar. Por isso ainda não fui embora nem fiquei rico.

PLAYBOY – Apesar da fama e do sucesso, o senhor declarou que gostaria que seus filhos abandonassem as lutas. Por quê?

GRACIE – Na minha mocidade eu estava tão empolgado com as minhas descobertas que comecei a lutar para provar que aquilo era bom. Queria que todos os brasileiros soubessem o que sei sobre jiu-jítsu. Hoje em dia, porém, já não se luta por idealismo. Não há mais o que provar a respeito da validade da minha técnica. Então, aconselhei os meus filhos a parar de lutar. Eles é que vão decidir. Se quiserem continuar para ganhar dinheiro, tudo bem. O jiu-jítsu hoje virou comércio mesmo.

PLAYBOY – O senhor se refere às academias que preparam esses brutamontes que andam sempre com um pit bull do lado?

GRACIE – Essas academias não deveriam nem estar abertas. Só estão por culpa do governo, que não examina as verdadeiras condições da escola. Hoje qualquer um abre uma academia de jiu-jítsu, sem nenhum problema, e muitas vezes o dono não tem nem diploma.

PLAYBOY – Essa gente ajudou a associar o jiu-jítsu à violência?

GRACIE – Sem dúvida. O verdadeiro lutador de jiu-jítsu não sai batendo. A nossa defesa é feita para neutralizar a agressão. Esse é o tipo de contrapropaganda que fazem com o jiu-jítsu e conosco. A qualquer besteira que se faça hoje logo vão dando o nome da família Gracie.

PLAYBOY – O senhor gosta de assistir aos filmes do ator Jean-Claude Van Damme?

GRACIE – Coitado. Ele é só um artista, não é um lutador. Mas, no cinema, luta que é uma beleza. Nos filmes as lutas são todas coreografadas, não têm nada a ver com o jiu-jítsu. Meus filhos já deram aulas para atores de cinema como Chuck Norris, Steven Seagal e Mel Gibson. Gosto de assistir. Não é preciso pensar, tem sempre a mesma moral. É como assistir aos filmes de bangue-bangue, o mocinho sempre vence o bandido.

PLAYBOY – Qual o segredo de sua longevidade e boa saúde?

GRACIE – Costumo dizer que estou velho mas não estou gasto. [Risos.] Aos 88 anos, não me troco por nenhum homem de 50. Nunca tive hábitos prejudiciais à saúde, como fumar, beber, comer fora de hora. Paladar também se educa. Eu como peixe, queijo fresco, frutas e legumes. Só faço uma refeição de panela por dia. Não misturo cereais, não como gordura nem açúcar. Aprendi isso com o meu irmão e não fico resfriado há mais de quinze anos. Também nunca fiz sexo mais do que o necessário para procriar. A natureza não é burra. Quem infringe as regras paga com juros e correção monetária. Na idade mais avançada é que chega a conta aos fracos devedores. Quem não tem força de vontade dá com os burros n’água.

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Exemplos do que a Reila falou sobre o Hélio no livro, que li recentemente e lembro de cabeça:

1. que ele mudou o discurso de que foi o Carlos que iniciou o jj brasileiro para dizer que foi ele, por influência do Rorion; para demonstrar a afirmação, mostra vários trechos de entrevistas antigas do Hélio reconhecendo o contrário;

2. pessoal: que os filhos do Hélio (Rickson, etc) não são da esposa, que ao que tudo indica não era fértil, mas de uma empregada da casa;

3. que deixou de ir a uma luta no Japão do Rickson porque o Rorion fez a cabeça dele, dizendo que era o filho mais importante pro gracie jiu-jitsu (que patenteou nos EUA e impediu outros membros da família de usarem); depois o mestre teria chorado por isso;

4. o Hélio criava como filhos alguns sobrinhos (Rolls, etc.- filhos do Carlos), mas que sempre procurava menosprezar o jj deles em detrimento dos filhos, sempre incentivando mais estes; mas o Rolls era o melhor;

5. que Hélio teria dito, após a morte do Rolls: "quem foi o Rolls? apenas um professorzinho"; sendo que a esposa do Rolls teria ouvido e deu o maior escândalo;

6. Que o Hélio pedia orientação pro Carlos pra tudo, inclusive afirmando existir várias cartas da época, o Hélio pedindo todo tipo de conselho para as questões mais banais; parece que ele teria negado isso posteriormente;

São os que me lembro assim de cabeça... mas falou muitos elogios também... muitas das afirmações "contra" o Hélio são fatos (mais fácil de provar/contestar); outras (minoria) são subjetivas.

Editado por thomaz.andrade

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Hahaha muito boa entrevista, Mestre Hélio era machista no último.

Po, imagina que honra fazer essas 40 aulas com ele...

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honra d+, fiquei sabendo que eles cobravam um preço beeeeeeeeeem salgado na epoca em que ficaram famosos, mas fazer oque e a lei da OFERTA e PROCURA.

Abraços

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muito legal.. vale a pena ler..

o Hélio merece respeito.. devemos muito a esse cara..

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Convidado Strikeforce

queria saber, se ele usou a faixa azul, por causa do wanderlei Silva, quando esse pegou a preta?

ou não tem nada a ver?

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queria saber, se ele usou a faixa azul, por causa do wanderlei Silva, quando esse pegou a preta?

ou não tem nada a ver?

Não Strikeforce,ele fez isso anos antes como um protesto contra a enxurrada de faixas pretas desconhecidos(por ele)no mercado do jiu-jitsu!

Editado por Alm

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Convidado Strikeforce

Não Strikeforce,ele fez isso anos antes como um protesto contra a enxurrada de faixas pretas desconhecidos(por ele)no mercado do jiu-jitsu!

valeu ALM

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valeu ALM

Completando,sem querer ser mórbido,fui ao enterro do mestre,ele estva de kimono com sua faixa vermelha na cintura,ao lado de seu corpo a faixa azul,creio que ele deve ter pedido isso a d.Vera ou seus filhos,sei lá mas lembrei deste detalhe,deve ter sido importante para ele,vale lembrar que no passado mais remoto,na época dos anos 50 seus instrutores usavam a faixa azul,

Grande abraço Strikeforce!

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Convidado Strikeforce

não sabia dessa... na morte dele , ele mais uma vez, "tocou" no assunto de vendas de faixa!

valeu

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PLAYBOY ± Há até pouco tempo ela namorava o Vítor Belfort...

GRACIE ± Coitado, ele é um principiante do jiu -jítsu. Tem noção apenas de luta de competição. Uma vez tive de falar com ele por telefone.

PLAYBOY ± Por quê?

GRACIE ± Ele fez uma declaração falando mal do meu filho Royce. Então telefonei e perguntei se ele estaria disposto a fazer um teste c om

meu filho. Ele respondeu que só lutava por dinheiro, o que não é o meu estilo. A resposta dele não me agradou. Demonstrou que não tem

convicção no que faz. Ele luta bem, mas não é um lutador de eficiência. Fiquei sabendo que já apanhou bastante em algumas lutas.

Vitor mataria o Royce na minha opinião, declaração totalmente ultrapassada do Mestre!

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