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Eder Jofre55

Longe do glamour do UFC Belém, evento nacional paga bolsa com ingresso

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Longe do glamour do UFC Belém, evento nacional paga bolsa com ingresso

Combate.com marca presença no Ultimate e no Revelation FC e narra as dificuldades - e peculiaridades - existentes no evento paraense, que aconteceu uma semana antes do UFC

Marcelo Barone e Raphael Marinho

O Revelation FC organizou sua quinta edição, no dia 25 de janeiro, no Ginásio do NEL (Núcleo de Esporte e Lazer), no bairro Umarizal, em Belém. O evento foi sediado na capital paraense oito dias antes de o UFC aportar no Mangueirinho, no último sábado. A distância de cerca de 12km que separa as duas arenas se torna pequena diante do abismo - óbvio - que há entre o Ultimate e os eventos da cidade, que pela primeira vez abrigou a companhia americana.

Árbitro central ergue o braço de Paulo Indio, que finalizou Carlos Eduardo "Sheik" naprimeira luta (Foto: Marcelo Barone )

 

Ao entrar no vestiário do Ginásio do NEL, um papel impresso, colado na parede, decreta: "É proibido cotoveladas". Enquanto os lutadores se aquecem, Lucas Zoghbi, um dos organizadores, se reúne para "passar" as regras. Ele diz que os golpes são permitidos no corpo, entretanto, os atletas se queixam e, ali, na hora, todos votam pelo veto.

Para quem acompanha os eventos nacionais de perto - seja como imprensa, fã ou organizador - a cena não surpreende. Entretanto, aos que conhecem o MMA tendo o Ultimate como referência, o amadorismo impressiona. Na quadra de esportes, onde o octógono foi montado, há quem faça o aquecimento e até quem coloque a atadura nas mãos sentado nas cadeiras colocadas ao redor do cage, destinadas ao público.

Os torcedores são formados por amigos, parentes e companheiros de treinos dos lutadores que entrarão em ação. A cerveja, que custa R$ 3, ajuda a plateia a amenizar o calor. Os atletas locais, como os irmãos Iuri e Ildemar Marajó, e o peso-pesado Gerônimo Mondragon são celebridades na cidade e recebem inúmeros pedidos de foto. Eles sabem bem como é iniciar a carreira em um evento pequeno, repleto de dificuldades, bem longe do glamour do Ultimate.

Atleta faz os últimos ajustes nas cadeiras do Revelation FC (Foto: Marcelo Barone )

Atleta faz os últimos ajustes nas cadeiras do Revelation FC (Foto: Marcelo Barone )

- Estou no UFC e não tenho patrocínio nenhum, tenho ajuda de amigos. É uma dificuldade. Imagina um cara que está em um evento pequeno, é pior ainda, entendeu? Queremos mudar isso e tomara que isso aconteça após o UFC Belém. Espero que as coisas melhores, que os empresários valorizem mais os atletas. As oportunidades são poucas. A galera não acredita muito, por isso não incentiva mais, não ajuda mais aqui - afirma o peso-galo, que venceu Joe Soto, no último sábado, ao Combate.com.

Iuri esteve no Revelation FC para acompanhar seu atleta, Kleber "Bekão", que fez a luta principal do show. O pupilo, que venceu Diego Pitbull por finalização aos 3m35s do terceiro round, recebeu uma bolsa modesta (mil reais em espécie e a mesma quantia em ingressos). Desta maneira, se conseguisse vender todos os bilhetes (R$ 25 cadeira, R$ 15 arquibancada), totalizaria R$ 2 mil. A título de comparação, a paraense Polyana Viana, que estreou no UFC Belém, faturou US$ 20 mil - (US$ 10 mil pela bolsa de apresentação e mais US$ 10 mil pela vitória), o piso, ao finalizar Maia Stevenson no primeiro assalto.

- A realidade é totalmente diferente. Já lutei fora do Brasil, em Holanda, no Suriname, e no Brasil é diferente. Eu nem ia lutar mais, estou há dois anos parado por lesão, tinha prometido que não voltaria mais. Os irmãos Marajó falavam que eu estava no lugar errado, que meu lugar de trabalhar como vaqueiro é no octógono. Atualmente estou aprendendo a trabalhar com prótese dentária, aprendendo com um amigo meu. Fora isso dou aula de muay thai, sou faixa-preta de jiu-jítsu, é assim que vou ganhando o pão de cada dia fora das lutas - desabafou Bekão, cuja vitória foi vista na arena por 500 pessoas, segundo os organizadores.

Ildemar e Iuri são os mentores de Bekão, que treina na academia da dupla, a Marajó Brothers (Foto: Marcelo Barone )

Ildemar e Iuri são os mentores de Bekão, que treina na academia da dupla, a Marajó Brothers (Foto: Marcelo Barone )

A prática de pagar parte da bolsa de atletas em ingressos é comum - e acontece até nos grandes centros, como Rio de Janeiro e São Paulo. Há muitas pessoas que compram as entradas somente para ajudar os atletas e, muitas vezes, acabam nem comparecendo aos eventos. Bekão vendeu tudo, porém, não consegue viver exclusivamente do esporte, como fazem os lutadores do UFC.

- A parte de alimentação, quem me ajuda é meu amigo Diego, que é dono do laboratório de prótese. Eu trabalho à tarde. Treino pela manhã e dou aula à noite. É muito cansativo, às vezes, não temos alimentação saudável, não tenho como comprar suplemento, porque pago aluguel, ajudo filho... O sonho de todo atleta de futebol é chegar à Seleção e disputar uma Copa do Mundo. O sonho dos atletas de MMA é lutar no UFC, ou em um evento grande, que pague em dólar, para você ajudar seus familiares, amigos e o pessoal da academia. Quero retribuir o que fazem por mim.

Vendedor de balas aproveita um momento de descanso para filmar um combate (Foto: Marcelo Barone )

Vendedor de balas aproveita um momento de descanso para filmar um combate (Foto: Marcelo Barone )

O Revelation FC durou cerca de quatro horas. As lutas - animadas - agradaram o público paraense, que gosta de MMA - até um vendedor de balas deu uma pausa para registrar um dos combates. Há muitas academias na cidade, sobram talentos, mas os investimentos baixos não ajudam na fomentação do esporte.

 

- Hoje em dia não temos o apoio nem da iniciativa privada, nem da pública. Temos muita dificuldade para conseguir apoio. A gente pega ajuda de empresas que dão um brinde ou alguma coisa, pagamos do nosso próprio capital. È difícil conseguir até ginásio. Tem um monte na cidade e não liberam, só pagando, sob um monte de burocracia. A dificuldade é política e a iniciativa privada não ajuda. Muitas vezes conseguimos uma margem pequena de lucro, mas na maioria da vezes só pagamos tudo e mantemos o evento. Unimos várias academias para poder botar os atletas para lutar e estamos tendo resultado. Têm vários atletas de Belém no UFC. Esperamos que com o UFC consigamos trazer incentivos - disse Lucas Zoghbi, um dos promotores do show.

Aproximadamente 500 pessoas marcaram presença na quinta edição do show (Foto: Marcelo Barone )

Aproximadamente 500 pessoas marcaram presença na quinta edição do show (Foto: Marcelo Barone )

Estrela do UFC Belém, Lyoto Machida, que derrotou Eryk Adners por pontos na luta principal, diante de 10.144 pessoas no Mangueirinho, espera que o legado do Ultimate na cidade seja a visibilidade para o esporte e, consequentemente, para os eventos locais.

 Foi muito legal o UFC Belém, porque foi o primeiro no Norte do país. Isso abre portas, movimenta a cidade, os atletas são mais vistos, a nova geração de lutadores ganha mais oportunidades. As pessoas conseguem enxergá-las melhor e valorizar o nosso esporte.

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